segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
CONGRESSO BRASILEIRO DE HOMEOPATIA - TRABALHOS APRESENTADOS
Para quem não foi ao Congresso Brasileiro de Homeopatia em Recife, parte dos trabalhos apresentados pode ser vista aqui:
https://icongresso.itarget.com.br/useradm/anais/?clt=ahp.1
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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Consulta Homeopática - O interrogatório
Para obter sintomas característicos, é necessário realizar um interrogatório de modalidades que corresponde a lista de recomendações de Hahnemann aos experimentadores :" Que mudanças você nota, como se modifica seu ânimo e sua inteligência, em relação às distintas circunstâncias?".
As circunstâncias, naturalmente, são as que determinou Hahnemann, e que povoam as patogenesias, e portanto, o Repertório.
Na esfera mental, estas são as circunstâncias ou modalidades fundamentais:
1. Horários e frequência.
2. Clima - ar livre, quente, úmido,sol, tormentas, calor da cama etc...
3. Movimento - caminhar, rápido, ao ar livre. Subir, descer etc..; viajar, bailar, mexer-se, fechar os olhos. Exercícios físicos, cruzar a rua. Repouso etc..
4. Ocupações - trabalho físico, mental. Pensamentos, ler, escrever, calcular. Tocar piano. Coser. Emprego sedentário etc...
5. Posição - sentado, parado, encostado, agachado, levantar-se etc.
6. Lugar - em sua casa, habitação, cama. Na escuridão, na multidão etc.
7. Os outros - sòzinho. Em companhia. Conversar, falar, se o interrompem. Se o tocam. Más notícias etc..
8. Causa - sem causa, por trivialidades. Coisas horríveis, sonhos espantosos. Música, ruídos etc.
9. Emoções - cólera, mágoa, pranto, depressão, lamentos, mortificação, reprovações, sustos, excitação etc.
10 Funções - comer, desjejum, almoço, jantar. Beber vinho, álcool, café, cerveja, bebidas frias. Evacuar, urinar, transpirar. Coito, menstruação, gravidez, amamentar, menopausa. Dormir, despertar etc.
Flora Dabbah - O sintoma característico - Grupo de Estudos Homeopáticos James Tyler Kent RJ 1990
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
XXX CONGRESSO BRASILEIRO DE HOMEOPATIA - 22 a 27/ 2010 -RECIFE -
Foto: Homeopatas de Porto Alegre no XXX Congresso Brasileiro de Homeopatia na cidade de Recife.
Com o lema "Uma abordagem Sistêmica do Ser", o XXX Congresso Brasileiro de Homeopatia se realizou no período de 22 a 27 de novembro na cidade de Recife. O evento cumpriu com os seus objetivos de reunir os profissionais, reafirmar o ideal Homeopático, aprofundar o conhecimento, buscar métodos de pesquisa e validação do Conhecimento Homeopático e discutir a implementação da homeopatia no SUS seguindo a lei PN PIC do Ministério da Saúde. O Congresso foi realizado para Médicos, Farmacêuticos, Veterinários e Odontólogos.
Com o lema "Uma abordagem Sistêmica do Ser", o XXX Congresso Brasileiro de Homeopatia se realizou no período de 22 a 27 de novembro na cidade de Recife. O evento cumpriu com os seus objetivos de reunir os profissionais, reafirmar o ideal Homeopático, aprofundar o conhecimento, buscar métodos de pesquisa e validação do Conhecimento Homeopático e discutir a implementação da homeopatia no SUS seguindo a lei PN PIC do Ministério da Saúde. O Congresso foi realizado para Médicos, Farmacêuticos, Veterinários e Odontólogos.
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
21 de Novembro - Dia da Homeopatia
foto: Homeopatas de P. Alegre na Herma de Hahnemann no Parque da Redenção.
21 de novembro - O Dia Nacional Da Homeopatia foi instituído em 1959, em homenagem a Benoit Mure, médico francês um dos principais propagadores da homeopatia no Brasil, que aqui chegou no dia 21 de novembro de 1840.
http://www.ligahomeopaticars.com.br/noticias/index.php?id=71&tipo=2044
http://www.ligahomeopaticars.com.br/noticias/index.php?id=71&tipo=2044
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
RACIONALIDADE CIENTÍFICA DO MODELO HOMEOPÁTICO
Freqüentemente, a classe homeopática tem sido surpreendida por críticas ao seu modelo terapêutico, na maioria das vezes por indivíduos que desconhecem os preceitos básicos da Homeopatia. O jargão mais utilizado por estas pessoas é que a Homeopatia "não apresenta comprovação científica".
Lembremos que os pilares fundamentais da Homeopatia são o princípio da semelhança e a experimentação no indivíduo humano e sadio. Neste artigo, concentramos nossas pesquisas no estudo da Lei dos Semelhantes, que ao ser confirmada pela metodologia científica atual, aproxima a Homeopatia à episteme moderna.
Importa salientarmos que o modelo homeopático é fundamentalmente experimental, fruto da observação cuidadosa do efeito das drogas no organismo humano. Apoiado nestas evidências, SAMUEL HAHNEMANN desenvolveu o tratamento pela similitude. Nos parágrafos 63 e 64 de sua obra máxima, Organon da arte de curar, HAHNEMANN estipula o mecanismo de ação das drogas, sistematizando-o: "toda droga causa uma certa alteração no estado de saúde humano pela sua ação primária; a esta ação primária do medicamento, o organismo opõe sua força de conservação, chamada ação secundária ou reação, no sentido de neutralizar o distúrbio inicial".
Observando que esta "ação secundária" poderia ser empregada como reação curativa, desde que direcionada no sentido correto, HAHNEMANN propôs um modelo terapêutico que se utilizaria de medicamentos que produzissem, em sua ação primária no organismo, sintomas semelhantes à doença natural, no intuito de despertar uma reação orgânica para anular esta doença artificial e, conseqüentemente à semelhança de sintomas com a doença original, neutralizaria também esta última. Daí surgiu o princípio terapêutico pela similitude: "todo medicamento capaz de despertar determinados sintomas no indivíduo sadio, é capaz de curar estes mesmos sintomas no indivíduo doente".
Assim fundamentado, HAHNEMANN passou a experimentar uma série de substâncias em indivíduos considerados "sadios", anotando todos os sintomas (primários) que neles surgissem, confeccionando com isto a Matéria Médica Homeopática. À medida que defrontava pacientes com sintomas semelhantes às drogas experimentadas, aplicava-as a estes enfermos, no sentido de despertar a reação secundária e curativa do organismo, obtendo com isto a cura dos mesmos.
Deste modo, a aplicação do princípio terapêutico homeopático implica no estimular uma reação homeostática e curativa, direcionada pela ação primária da droga que causou no experimentador "sadio" sintomas muito semelhantes aos sintomas da doença original.
Realizando a ponte com o cientificismo atual, utilizando-nos da Farmacologia Moderna, encontramos uma infinidade de relatos, tanto em compêndios farmacológicos como em publicações científicas, que descrevem uma reação secundária do organismo a um estímulo primário drogal, confirmando o citado por HAHNEMANN. Esta ação secundária do organismo, no sentido de manter a homeostase orgânica, é denominada de efeito rebote ou reação paradoxal, segundo a racionalidade científica atual.
Ilustrando o acima exposto, teríamos que drogas utilizadas classicamente para o tratamento da angina de peito, promovendo, inicialmente, melhora da dor como efeito primário, despertam, como ação secundária ou efeito rebote, após a suspensão da medicação ou tratamento irregular, exacerbação da dor torácica, tanto na freqüência como na intensidade, em alguns casos não respondendo a qualquer terapêutica. Drogas utilizadas no controle da hipertensão arterial podem provocar uma hipertensão arterial de rebote, como reação secundária ao estímulo primário. Agentes cardiotônicos, empregados no tratamento da insuficiência cardíaca, promoveram, após a interrupção da administração, rebote hemodinâmico, com riscos de desencadear severos problemas cardíacos. Fármacos empregados para diminuir o colesterol, despertaram um aumento rebote e significante do colesterol sanguíneo. No emprego de drogas psiquiátricas (ansiolíticas, sedantes ou hipnóticas, antidepressivas, antipsicóticas, etc.), observou-se uma reação do organismo no sentido de manter a homeostase orgânica, promovendo sintomas opostos aos esperados na sua utilização terapêutica primária. Medicamentos neurológicos, utilizados em sua ação primária para evitar convulsões, movimentos discinéticos ou contrações musculares, apresentam como reação secundária ou efeito rebote, após a suspensão da medicação, exacerbação destes mesmos sintomas. Drogas antiinflamatórias, utilizadas primariamente para suprimir a inflamação, desencadeiam respostas secundárias no organismo aumentando a concentração sangüínea dos mediadores da inflamação. Drogas anticoagulantes, empregadas por seu efeito primário na profilaxia da trombose sangüínea, promovem complicações trombóticas como efeito secundário ou rebote. Diuréticos, utilizados primariamente para diminuir a volemia (edema, hipertensão arterial, ICC, etc.), causam, como efeito rebote, aumento da retenção de sódio e potássio, com conseqüente aumento da volemia. Medicamentos empregados para a dispepsia (gastrites, úlceras gastroduodenais), como antiácidos e antagonistas do receptor H2, promovem, após o efeito primário de diminuição da acidez, aumento rebote ácido e piora das úlceras gastroduodenais. Fármacos empregados na asma brônquica, como os broncodilatadores e corticosteróides inalatórios, desencadeiam piora da broncoconstrição, como resposta secundária do organismo à suspensão ou descontinuidade do tratamento.
Trazendo algumas das muitas evidências encontradas no cientificismo moderno sobre os principais fundamentos da Homeopatia, completemos o relato com o emprego de drogas convencionais segundo o método homeopático. Utilizando-se da reação secundária do organismo como forma de tratamento (princípio homeopático), administrou-se um contraceptivo bifásico (anovulatório) para pacientes que apresentavam esterilidade funcional, incapazes de ovular e engravidar. Após a suspensão da droga, observou-se a ovulação em aproximadamente 25% das pacientes e, destas, 10% engravidaram. Outras drogas modernas poderiam ser utilizadas segundo o método homeopático de tratamento, desde que provocassem no indivíduo "sadio" os mesmos sintomas que se desejam tratar no indivíduo doente, apesar do emprego de uma "similitude parcial", diferente da similitude totalizante e individualizadora empregada pela Homeopatia.
Neste breve relato, citei algumas evidências da racionalidade científica moderna, contidas na obra Semelhante Cura Semelhante - O princípio de cura homeopático fundamentado pela racionalidade médica e científica, que acredito possam servir de base para estudos homeopáticos futuros dentro do meio acadêmico e científico, a fim de nos aproximarmos e contribuirmos ao desenvolvimento da Arte Médica.
Quanto aos ensaios clínicos duplo-cego, que demonstrem estatisticamente a eficácia do medicamento homeopático frente ao uso do placebo, questionados por muitos colegas adeptos da "medicina baseada em evidências", cito duas metanálises que evidenciam cientificamente a superioridade do medicamento homeopático perante o placebo.
Referência bibliográfica: TEIXEIRA, Marcus Zulian. Semelhante Cura Semelhante - O princípio de cura homeopático fundamentado pela racionalidade médica e científica. São Paulo: Editorial Petrus, 1998, 463 p.
Fitoterapia e a comprovação científica
Recentemente, veículos de comunicação passaram a explorar alguns pontos negativos em relação à segurança e à eficácia das plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos. A comunidade, científica ou não, ficou surpresa com o enfoque principal dado às matérias, com várias demonstrações de charlatanismo, despreparo e falta de profissionalismo de alguns “profissionais” da área da saúde em geral.
O que impressiona, especialmente aqueles que têm se dedicado a estudar o potencial terapêutico das plantas e toda a cadeia de produção de fitoterápicos (químicos, farmacêuticos, médicos, agrônomos, farmacólogos, etc.), não são os exemplos ilustrados.
A surpresa é a indução da ideia de que os fitoterápicos não funcionam, colocando na vala comum charlatães e os incontáveis e incansáveis cientistas que trabalham arduamente na área de produtos naturais bioativos, comprovando os promissores e relevantes resultados de algumas plantas e seus preparados fitoterápicos e publicando artigos em periódicos especializados de alto impacto.
O que precisa ficar claro é que a cada ano a fitoterapia ganha novos adeptos, fundamentalmente, devido à ciência comprovar a eficácia de preparações vegetais em estudos experimentais pré-clínicos (estudos em animais) e clínicos (estudos em seres humanos).
O desenvolvimento de novos e eficazes fitoterápicos genuinamente nacionais tem estimulado e impulsionado a consolidação de grupos de pesquisa nesta área e “acendido” uma luz junto à indústria farmacêutica nacional, no sentido de melhor aproveitar a competência estabelecida no País e a riquíssima flora, para o desenvolvimento de novos, seguros e eficazes fitoterápicos.
O 5º Simpósio Ibero-americano de Plantas Medicinais (V SIPM), realizado recentemente na Univali, em Itajaí, que contou com mais de 30 renomados palestrantes ibero-americanos e apresentação de mais de 500 trabalhos científicos, é uma prova inequívoca de que a comunidade científica está muito motivada para dar respostas.
Em posição diametralmente oposta às propaladas referidas matérias, conclui-se que a biodiversidade brasileira é muito rica em plantas com poder terapêutico que poderão e deverão ser aproveitadas para a produção de novos e efetivos medicamentos naturais de origem brasileira.
Valdir Cechinel Filho, professor, pesquisador e pró- reitor de pesquisa, pós graduação, extensão e cultura da Unuvali
terça-feira, 9 de novembro de 2010
"Indústria farmacêutica tem controle total sobre pesquisas", entrevista com Carl Eliott
Interesses de laboratórios comandam quase tudo na saúde, afirma Carl Elliot, professor de bioética na Universidade de Minnesota e autor de livro sobre o lado negro da medicina. Leia a entrevista...
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=74288
http://coletivodar.wordpress.com/2010/10/26/industria-farmaceutica-tem-controle-total-sobre-pesquisas-afirma-carl-elliot-professor-de-bioetica/
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=74288
http://coletivodar.wordpress.com/2010/10/26/industria-farmaceutica-tem-controle-total-sobre-pesquisas-afirma-carl-elliot-professor-de-bioetica/
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
Sessão de Autógrafos de “Páginas da História da Medicina” na 56ª Feira do Livro
O livro “Páginas da História da Medicina” tem sessão de autógrafos marcada para domingo, 07 de novembro, às 18 horas, no Memorial do Rio Grande do Sul. A publicação é o resultado da primeira jornada de pesquisas entre médicos e historiadores, realizada em 2008, e que terá nova edição em outubro próximo. A realização é do Museu, do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul, do PPG em História e da Faculdade de Medicina da PUCRS, com apoio da editora e da universidade, além do Núcleo Acadêmico do SIMERS.
http://www.muhm.gov.br/
http://www.muhm.gov.br/
Exposição História e Saúde – Diálogos com a Dor e a Cura
A exposição reúne documentos e fotos históricas sobre a evolução da medicina no Estado do Rio Grande do Sul entre o século XIX e início do século XX e suas interrelações com a sociedade e a política.
Local: Salas do Tesouro, 2º andar do Memorial do Rio Grande do Sul
Endereço: Rua Sete de Setembro 1020, Praça da Alfândega – Centro Histórico – Porto Alegre
Visitação pública de terças a domingos, das 10 às 18h. Entrada gratuita
Local: Salas do Tesouro, 2º andar do Memorial do Rio Grande do Sul
Endereço: Rua Sete de Setembro 1020, Praça da Alfândega – Centro Histórico – Porto Alegre
Visitação pública de terças a domingos, das 10 às 18h. Entrada gratuita
terça-feira, 26 de outubro de 2010
O primeiro medicamento oncológico nacional
O Aveloz (Euphorbia tirucalli, nome científico) é uma planta de origem africana encontrado no Brasil nas regiões Norte, Nordeste, Sul e Sudeste. A sabedoria popular passou a utilizar as propriedades medicinais do Aveloz no tratamento de doenças. A partir de 2006, o laboratório Amazônia Fitomedicamentos, em parceria com os institutos referenciados, passou a desenvolver os estudos com o Aveloz, isolando o suco (látex) retirado da planta e controlando sua toxicidade. A substância foi sintetizada no Brasil a partir da planta e ganhou o nome de AM 10. Na fase pré-clínica, foi confirmada a existência de propriedades eficazes no combate de tumores cancerosos em células e animais. O Dr. Pianowski explica que, na primeira fase, o trabalho teve o objetivo de identificar e comprovar o nível de toxicidade da substância e como ela realmente age no organismo humano. A pesquisa também revelou que o Aveloz tem uma capacidade antiinflamatória e analgésica que está diretamente relacionada à inibição do crescimento das células tumorais.
A conclusão dos estudos sobre a ação do princípio ativo em células tumorais no organismo humano dependerá ainda de uma terceira fase, em que o medicamento terá que comprovar sua eficácia em um grande número de pacientes. A partir de então, o estudo apontará para a descoberta de uma nova opção terapêutica para o tratamento do câncer e uma grande esperança no combate à doença. "Se a eficácia do AM10 for comprovada nos próximos estudos, ele poderá se transformar no primeiro medicamento oncológico nacional, desenvolvido a partir de uma erva amazônica, levando qualidade de vida para pacientes que sofrem com a doença", finaliza Pianowski.
"Isolamos uma parte das substâncias do Aveloz (planta medicinal) e concluímos a fase pré-clínica com os testes em células e animais. Com os resultados positivos, vamos agora ministrar o princípio ativo para pacientes e verificar a eficácia do medicamento", explica o coordenador da pesquisa, Dr. Luiz Pianowski. "Descobrimos que o AM 10 tem uma ação citotóxica, ou seja, que mata as células, e outra apoptótica - que incentiva o suicídio delas. Mas observamos também uma ação seletiva da substância, focada em células modificadas (cancerígenas), ou seja, ela mata mais células tumorais do que células vivas", complementa.
Esta ação seletiva representa um grande benefício para o tratamento de pacientes com câncer e uma vantagem do fitomedicamento em relação às terapias tradicionais. Em quimioterapias, as substâncias administradas matam as células cancerígenas mas também as sadias.
http://www.alanac.org.br/index.php?option=com_content&view=article&id=3928:primeiro-fitoterapico-totalmente-brasileiro-para-o-tratamento-de-cancer-de-mama-esta-em-fase-avancada-de-pesquisa-maxpress-sao-paulosp-feminina-&catid=:noticias-do-setor__
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
O PREMIO NOBEL DE FISIOLOGIA OU MEDICINA
Alfred Nobel tinha um interesse ativo na pesquisa médica. Através do Karolinska Institutet, entrou em contato com o fisiologista sueco Jöns Johansson volta de 1890. Johansson trabalhou no laboratório de Nobel, em Sevran, França por um tempo esse ano. Fisiologia ou Medicina foi a área terceira área do prêmio que Nobel mencionou em seu testamento.
Em 1901, Emil von Behring recebeu o primeiro Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina por seu trabalho em soroterapia, em particular para seu uso no tratamento da difteria. O prêmio de Medicina posteriormente destacou uma série de descobertas importantes, incluindo engenharia de penicilina, genética e de tipagem sangüínea.
O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina é concedido pela Assembléia Nobel do Instituto Karolinska.
Premio Nobel de Medicina 2010
O pesquisador britânico Robert Edwards ganhou o Prêmio Nobel de Medicina 2010 por suas pesquisas sobre a fecundação in vitro, comunicou nesta segunda-feira o Instituto Karolinska. Edwards, 85, professor emérito da Universidade de Cambridge, começou a trabalhar com fertilização in vitro no começo dos anos 50. Ele desenvolveu a técnica em que óvulos são fertilizados fora do corpo humano e implantados no útero. A pesquisa foi realizada com o cirurgião ginecológico Patrick Steptoe, que morreu em 1988.
"As realizações de Edward tornaram possíveis tratar a infertilidade, um problema de saúde que aflige mais de 10% de todos os casais do mundo inteiro", afirmou o Instituto Karolinska, responsável pelo Nobel, em nota. De acordo com o médico Fraietta, são feitos mais de 300.000 ciclos de fertilização in vitro por ano no mundo – só no Brasil, são mais de 5.000. “Isso significa que nascem cerca de 2.500 crianças todos os anos no nosso país por conta dessa técnica”, diz Fraietta.
http://nobelprize.org/nobel_prizes/medicine/
Ciência comprova a ação antiinflamatória da Copaíba
Mais uma vez a Ciência comprovou a eficácia de uma planta largamente usada na medicina popular. Pesquisadores da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP constataram que o óleo de copaíba apresenta ação antiinflamatória. Esse potencial se mostrou duas vezes maior que o encontrado no diclofenaco de sódio, um dos medicamentos mais utilizados no mercado. O estudo, realizado em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz, em Manguinhos, no Rio de Janeiro, teve seus resultados depositados para patente.
http://www.usp.br/agen/bols/2006/rede1879.htm
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Mario Vargas Llosa e o discurso sobre a cultura
Mario Vargas Llosa foi aplaudido de pé ao entrar no palco do Fronteiras do Pensamento na noite de 14 de outubro. Com o Salão de Atos da UFRGS totalmente repleto, o Nobel de Literatura 2010 iniciou sua conferência agradecendo o carinho do público do Fronteiras que, segundo as palavras do próprio autor, recebe tão ilustres pensadores e artistas.
O escritor peruano dedicou sua conferência à noção de "cultura", fazendo uma crítica aos rumos dados a esse conceito graças à antropologia, à sociologia e ao pensamento dos intelectuais pós-modernos como Michel Foucault e Jacques Derrida, aos quais fez duras considerações. Para Vargas Llosa, a noção de cultura foi adquirindo diversos significados e matizes ao longo da história: ela já foi inseparável da religião, da
filosofia grega e do direito romano. No Renascimento, a "cultura" era impregnada de literatura e artes; e, com o Iluminismo, ela foi finalmente associada ao conhecimento científico.
A noção de cultura
Apesar dessas variações históricas, Llosa defendeu que "cultura" sempre significou a soma dos fatores e das disciplinas que a constituíam: a reivindicação de novas ideias, valores, conhecimentos históricos, religiosos, filosóficos e científicos, bem como o fomento de novas formas artísticas e campos do saber. A cultura sempre estabeleceu hierarquias sociais entre quem a enriquecia e a fazia progredir e quem a desprezava
ou era excluído por razões sociais e econômicas. “Em uma sociedade, em todas as épocas históricas, havia pessoas cultas e incultas e, entre ambos os extremos, pessoas mais ou menos cultas ou mais ou menos incultas. Essa classificação ficava bastante clara em um mundo onde tudo era regido por um mesmo sistema de valores, critérios culturais e maneiras de julgar, pensar e se comportar”, disse o peruano. Para Llosa, a noção de cultura atual se estendeu tanto, que se esvaiu. Assim, "hoje, todos somos cultos, embora muitos nunca tenham sequer lido um livro ou assistido a um concerto."
A ciência contra a cultura
Mario Vargas Llosa aponta a antropologia, dentre outras áreas, como aquela responsável pela confusão em que a noção de cultura se encontra. Os antropólogos, inspirados pela melhor fé do mundo, numa vontade de compreensão das sociedades mais primitivas que estudavam, estabeleceram que "cultura" era a soma de crenças, conhecimentos, linguagens, costumes, sistemas de parentescos e usos. Ou seja, tudo aquilo que um povo faz, diz, teme ou adora. “Essa definição buscava, entre outras coisas, sair do etnocentrismo racista daquilo que o Ocidente não se cansa de se acusar. O propósito não podia ser mais generoso, mas sabemos que o inferno está cheio de boas intenções”, ironizou o conferencista. Segundo ele, uma coisa é crer
que todas as culturas merecem consideração, já que, sem dúvida, em todas elas há contribuições positivas à civilização humana. Outra coisa é crer que elas, pelo simples fato de existirem, se equivalem.
A cultura popular
Para o escritor, foi a busca do politicamente correto que terminou por nos convencer de que é arrogante, dogmático, colonialista e até racista falar em culturas inferiores e superiores, modernas e primitivas. Conforme essa crença, todas são iguais -expressões equivalentes da maravilhosa diversidade humana.
Por sua parte, os sociólogos, empenhados em fazer crítica literária, teriamincorporado a "incultura" à ideia de cultura, disfarçada com o nome de "cultura popular". O conferencista lembrou a obra do autor russo Mikhail Bakhtin dedicada à cultura popular na Idade Média e no Renascimento. Bakhtin via a cultura popular
como um tipo de contraponto à cultura aristocrática, que brota dos salões, conventos, palácios e bibliotecas. A cultura popular nasce e vive na rua, na taberna, na festa, no carnaval, e, mais ainda, satiriza a aristocracia. Bakhtin e seus seguidores aboliram, segundo Vargas Llosa, as fronteiras entre cultura e incultura e deram ao
inculto uma dignidade relevante. “Como falar, então, em um mundo sem cultura numa época em que naves
construídas pelo homem chegaram às estrelas e a percentagem de analfabetos é a mais baixa de todo o acontecer humano?”, questionou o conferencista, chamando a atenção para o fato de que o número de alfabetizados é quantitativo, enquanto a cultura é qualidade, não quantidade. Llosa também advertiu que é atual a capacidade de reunirmos armas de destruição massiva que podem acabar com o planeta, mas que isso está mais próximo da barbárie do que da cultura.
O especialista e a cultura
O especialista foi definido pelo escritor como um ser unidimensional que pode ser, ao mesmo tempo, um grande especialista e um inculto, porque seus conhecimentos, em vez de o conectarem com os outros, isola-o numa especialidade, que é uma cela no domínio do saber. As minorias cultas, conforme Vargas Llosa, tinham a missão de estender pontes entre as áreas do saber e de exercer influência religiosa ou leiga para o progresso intelectual, garantindo melhores oportunidades e condições materiais de vida. “Elliot dizia que não se deve identificar cultura com conhecimento. A cultura dá sustento ao conhecimento e o precede, imprime-lhe uma funcionalidade precisa”, defendeu o Nobel de Literatura.
Artes e letras
No processo da cultura, para ele, seria equivocado atribuir funções idênticas às letras, às ciências e às artes. A ciência avança aniquilando o velho, antiquado e obsoleto. Para ela, o passado é um cemitério, um mundo de coisas mortas e superadas pelas novas descobertas e invenções. As letras e as artes se renovam, mas
não se fundamentam no progresso, não aniquilam seu passado, alimentam-se dele e o alimentam. “Cervantes segue sendo tão atual quanto Borges, Velázquez está tão vivo quanto Picasso”, exemplificou o escritor.
Isso não quer dizer que a literatura, a música e a arte não mudem e evoluam, mas não suprimem nem superam. A obra artística e literária, aquela que alcança certo grau de excelência, não morre com o tempo – segue vivendo e enriquecendo as novas gerações e evoluindo. É por isso que criavam um espaço de comunicação entre seres humanos de diversas gerações. “Letras e artes constituíram o denominador comum
da cultura”, disse o escritor.
Maio de 68 e a autoridade
No campo da cultura, Mario Vargas Llosa confessou preocupação particular com a educação. Atualmente, nas escolas, docentes ou quaisquer outras formas de autoridade parecem ter convertido os colégios em instituições caóticas e com concentração de precoces delinquentes. Para o autor, Maio de 68 não acabou com a autoridade, que já vinha sofrendo um enfraquecimento generalizado em todas as ordens, do político ao cultural. “Os adolescentes provindos das classes burguesas privilegiadas da França, que protagonizaram aquele divertido carnaval, que proclamou ‘É proibido proibir’, estenderam ao conceito de autoridade seu atestado de óbito”, disse o conferencista. Para ele, isso teria dado legitimidade e glamour à ideia de que toda autoridade é suspeita, perniciosa e detestável e que o mais nobre e libertário é desconhecê-la e destruí-la. “O poder não se viu nem um pouco afetado com essa audácia dos jovens rebeldes que, sem saber, levaram às barricadas os ideais iconoclastas de pensadores como Michel Foucault e Jacques Derrida. A autoridade no sentido romano, não de poder, senão de prestígio e crédito, que reconhece a uma pessoa ou instituição por sua qualidade ou competência, não voltou a reviver”, lamentou o escritor, lembrando que são poucas as figuras que exercem esse papel do exemplo moral e, ao mesmo tempo, da autoridade clássica.
Mario Vargas Llosa encerrou sua conferência defendendo que um bom livro nos aproxima da existência humana e de seus mistérios. “Os livros ajudam a viver.
A cultura pode ser experimento de reflexão, pensamento e sonho, paixão e poesia.É uma revisão crítica constante e profunda de todas as certezas, convicções, teorias e crenças”, concluiu o convidado que, após a conferência, respondeu às diversas perguntas da plateia e concedeu uma sessão de autógrafos.
O Prêmio Nobel
As perguntas do público ao Nobel de Literatura abrangeram os mais diversos assuntos do universo de Llosa: livro eletrônico, influências literárias, América Latina e a opinião sobre autores da literatura brasileira e hispano-americana. O bom humor de Vargas Llosa divertiu a plateia que permaneceu até o final, ouvindo-o com atenção. O convidado ainda foi questionado sobre suas obras e personagens – principalmente Ricardo, do livro Travessuras da menina má -, e até sobre o uso que daria ao dinheiro recebido pelo Prêmio Nobel (1,5 milhão de dólares). Ele disse que a decisão sobre o uso do dinheiro cabe à Patrícia, sua esposa, e que espera que ela seja generosa, dando a ele uns "trocadinhos" para investir em livros. Ainda sobre o prêmio, afirmou desconhecer a razão da escolha e que esperava que fosse por sua obra. Contudo, o escritor lembrou que a maioria dos escritores são reconhecidos apenas após a morte. Llosa disse sentir um certo desconforto pelo fato de ele ter merecido o Nobel, enquanto Jorge Luis Borges, um dos maiores escritores da língua espanhola, não ter sido agraciado com o mesmo. “Não me queixo, estou contente de tê-lo recebido, mas espero que tenha sido algo pensado e não um gesto do momento”, brincou o conferencista.
O escritor também explicou o processo criativo que desencadeia um novo livro. Ele sempre parte de uma experiência vivenciada e que, por razões misteriosas, deixa na sua memória imagens que adquirem efervescência e levam a uma primeira redação que sempre lhe é custosa: “Reescrever essa primeira versão é o que me dá maisprazer. Não sou um escritor, e sim um reescritor”, concluiu.
Por Sonia Montaño
para a Unimed Porto Alegre
http://www.unimedpoa.com.br/cooperados/fique-por-dentro/noticias/noticias/293.aspx
http://www.fronteirasdopensamento.com.br/conferencistas
O escritor peruano dedicou sua conferência à noção de "cultura", fazendo uma crítica aos rumos dados a esse conceito graças à antropologia, à sociologia e ao pensamento dos intelectuais pós-modernos como Michel Foucault e Jacques Derrida, aos quais fez duras considerações. Para Vargas Llosa, a noção de cultura foi adquirindo diversos significados e matizes ao longo da história: ela já foi inseparável da religião, da
filosofia grega e do direito romano. No Renascimento, a "cultura" era impregnada de literatura e artes; e, com o Iluminismo, ela foi finalmente associada ao conhecimento científico.
A noção de cultura
Apesar dessas variações históricas, Llosa defendeu que "cultura" sempre significou a soma dos fatores e das disciplinas que a constituíam: a reivindicação de novas ideias, valores, conhecimentos históricos, religiosos, filosóficos e científicos, bem como o fomento de novas formas artísticas e campos do saber. A cultura sempre estabeleceu hierarquias sociais entre quem a enriquecia e a fazia progredir e quem a desprezava
ou era excluído por razões sociais e econômicas. “Em uma sociedade, em todas as épocas históricas, havia pessoas cultas e incultas e, entre ambos os extremos, pessoas mais ou menos cultas ou mais ou menos incultas. Essa classificação ficava bastante clara em um mundo onde tudo era regido por um mesmo sistema de valores, critérios culturais e maneiras de julgar, pensar e se comportar”, disse o peruano. Para Llosa, a noção de cultura atual se estendeu tanto, que se esvaiu. Assim, "hoje, todos somos cultos, embora muitos nunca tenham sequer lido um livro ou assistido a um concerto."
A ciência contra a cultura
Mario Vargas Llosa aponta a antropologia, dentre outras áreas, como aquela responsável pela confusão em que a noção de cultura se encontra. Os antropólogos, inspirados pela melhor fé do mundo, numa vontade de compreensão das sociedades mais primitivas que estudavam, estabeleceram que "cultura" era a soma de crenças, conhecimentos, linguagens, costumes, sistemas de parentescos e usos. Ou seja, tudo aquilo que um povo faz, diz, teme ou adora. “Essa definição buscava, entre outras coisas, sair do etnocentrismo racista daquilo que o Ocidente não se cansa de se acusar. O propósito não podia ser mais generoso, mas sabemos que o inferno está cheio de boas intenções”, ironizou o conferencista. Segundo ele, uma coisa é crer
que todas as culturas merecem consideração, já que, sem dúvida, em todas elas há contribuições positivas à civilização humana. Outra coisa é crer que elas, pelo simples fato de existirem, se equivalem.
A cultura popular
Para o escritor, foi a busca do politicamente correto que terminou por nos convencer de que é arrogante, dogmático, colonialista e até racista falar em culturas inferiores e superiores, modernas e primitivas. Conforme essa crença, todas são iguais -expressões equivalentes da maravilhosa diversidade humana.
Por sua parte, os sociólogos, empenhados em fazer crítica literária, teriamincorporado a "incultura" à ideia de cultura, disfarçada com o nome de "cultura popular". O conferencista lembrou a obra do autor russo Mikhail Bakhtin dedicada à cultura popular na Idade Média e no Renascimento. Bakhtin via a cultura popular
como um tipo de contraponto à cultura aristocrática, que brota dos salões, conventos, palácios e bibliotecas. A cultura popular nasce e vive na rua, na taberna, na festa, no carnaval, e, mais ainda, satiriza a aristocracia. Bakhtin e seus seguidores aboliram, segundo Vargas Llosa, as fronteiras entre cultura e incultura e deram ao
inculto uma dignidade relevante. “Como falar, então, em um mundo sem cultura numa época em que naves
construídas pelo homem chegaram às estrelas e a percentagem de analfabetos é a mais baixa de todo o acontecer humano?”, questionou o conferencista, chamando a atenção para o fato de que o número de alfabetizados é quantitativo, enquanto a cultura é qualidade, não quantidade. Llosa também advertiu que é atual a capacidade de reunirmos armas de destruição massiva que podem acabar com o planeta, mas que isso está mais próximo da barbárie do que da cultura.
O especialista e a cultura
O especialista foi definido pelo escritor como um ser unidimensional que pode ser, ao mesmo tempo, um grande especialista e um inculto, porque seus conhecimentos, em vez de o conectarem com os outros, isola-o numa especialidade, que é uma cela no domínio do saber. As minorias cultas, conforme Vargas Llosa, tinham a missão de estender pontes entre as áreas do saber e de exercer influência religiosa ou leiga para o progresso intelectual, garantindo melhores oportunidades e condições materiais de vida. “Elliot dizia que não se deve identificar cultura com conhecimento. A cultura dá sustento ao conhecimento e o precede, imprime-lhe uma funcionalidade precisa”, defendeu o Nobel de Literatura.
Artes e letras
No processo da cultura, para ele, seria equivocado atribuir funções idênticas às letras, às ciências e às artes. A ciência avança aniquilando o velho, antiquado e obsoleto. Para ela, o passado é um cemitério, um mundo de coisas mortas e superadas pelas novas descobertas e invenções. As letras e as artes se renovam, mas
não se fundamentam no progresso, não aniquilam seu passado, alimentam-se dele e o alimentam. “Cervantes segue sendo tão atual quanto Borges, Velázquez está tão vivo quanto Picasso”, exemplificou o escritor.
Isso não quer dizer que a literatura, a música e a arte não mudem e evoluam, mas não suprimem nem superam. A obra artística e literária, aquela que alcança certo grau de excelência, não morre com o tempo – segue vivendo e enriquecendo as novas gerações e evoluindo. É por isso que criavam um espaço de comunicação entre seres humanos de diversas gerações. “Letras e artes constituíram o denominador comum
da cultura”, disse o escritor.
Maio de 68 e a autoridade
No campo da cultura, Mario Vargas Llosa confessou preocupação particular com a educação. Atualmente, nas escolas, docentes ou quaisquer outras formas de autoridade parecem ter convertido os colégios em instituições caóticas e com concentração de precoces delinquentes. Para o autor, Maio de 68 não acabou com a autoridade, que já vinha sofrendo um enfraquecimento generalizado em todas as ordens, do político ao cultural. “Os adolescentes provindos das classes burguesas privilegiadas da França, que protagonizaram aquele divertido carnaval, que proclamou ‘É proibido proibir’, estenderam ao conceito de autoridade seu atestado de óbito”, disse o conferencista. Para ele, isso teria dado legitimidade e glamour à ideia de que toda autoridade é suspeita, perniciosa e detestável e que o mais nobre e libertário é desconhecê-la e destruí-la. “O poder não se viu nem um pouco afetado com essa audácia dos jovens rebeldes que, sem saber, levaram às barricadas os ideais iconoclastas de pensadores como Michel Foucault e Jacques Derrida. A autoridade no sentido romano, não de poder, senão de prestígio e crédito, que reconhece a uma pessoa ou instituição por sua qualidade ou competência, não voltou a reviver”, lamentou o escritor, lembrando que são poucas as figuras que exercem esse papel do exemplo moral e, ao mesmo tempo, da autoridade clássica.
Mario Vargas Llosa encerrou sua conferência defendendo que um bom livro nos aproxima da existência humana e de seus mistérios. “Os livros ajudam a viver.
A cultura pode ser experimento de reflexão, pensamento e sonho, paixão e poesia.É uma revisão crítica constante e profunda de todas as certezas, convicções, teorias e crenças”, concluiu o convidado que, após a conferência, respondeu às diversas perguntas da plateia e concedeu uma sessão de autógrafos.
O Prêmio Nobel
As perguntas do público ao Nobel de Literatura abrangeram os mais diversos assuntos do universo de Llosa: livro eletrônico, influências literárias, América Latina e a opinião sobre autores da literatura brasileira e hispano-americana. O bom humor de Vargas Llosa divertiu a plateia que permaneceu até o final, ouvindo-o com atenção. O convidado ainda foi questionado sobre suas obras e personagens – principalmente Ricardo, do livro Travessuras da menina má -, e até sobre o uso que daria ao dinheiro recebido pelo Prêmio Nobel (1,5 milhão de dólares). Ele disse que a decisão sobre o uso do dinheiro cabe à Patrícia, sua esposa, e que espera que ela seja generosa, dando a ele uns "trocadinhos" para investir em livros. Ainda sobre o prêmio, afirmou desconhecer a razão da escolha e que esperava que fosse por sua obra. Contudo, o escritor lembrou que a maioria dos escritores são reconhecidos apenas após a morte. Llosa disse sentir um certo desconforto pelo fato de ele ter merecido o Nobel, enquanto Jorge Luis Borges, um dos maiores escritores da língua espanhola, não ter sido agraciado com o mesmo. “Não me queixo, estou contente de tê-lo recebido, mas espero que tenha sido algo pensado e não um gesto do momento”, brincou o conferencista.
O escritor também explicou o processo criativo que desencadeia um novo livro. Ele sempre parte de uma experiência vivenciada e que, por razões misteriosas, deixa na sua memória imagens que adquirem efervescência e levam a uma primeira redação que sempre lhe é custosa: “Reescrever essa primeira versão é o que me dá maisprazer. Não sou um escritor, e sim um reescritor”, concluiu.
Por Sonia Montaño
para a Unimed Porto Alegre
http://www.unimedpoa.com.br/cooperados/fique-por-dentro/noticias/noticias/293.aspx
http://www.fronteirasdopensamento.com.br/conferencistas
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
DIA DO MÉDICO 18 de outubro de 2010
Em homenagem ao dia do médico, hoje 18 de outubro de 2010, vou agradar-nos com imagens do livro Medicina Homeopática de Ignácio Guasque, editado no ano de 1890 e que neste ano completa 120 anos de sua publicação. E que talvez seja dos primeiros livros de homeopatia publicados no Rio Grande do Sul.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
PLANTAS MEDICINAIS X SUS
Uma lista com 71 plantas de interesse do SUS está sendo divulgada pelo Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos do Ministério da Saúde. Dentre algumas espécies constam a Cynara scolymus (alcachofra), Schinus terebentthifolius (aroeira da praia) e a Uncaria tomentosa (unha-de-gato), usadas pela sabedoria popular e confirmadas cientificamente, para distúrbios de digestão, inflamação vaginal e dores articulares, respectivamente.
A Relação Nacional de Plantas Medicinais de Interesse ao SUS (Renisus) apresenta plantas medicinais que apresentam potencial para gerar produtos de interesse ao SUS. A finalidade da lista é orientar estudos e pesquisas que possam subsidiar a elaboração da relação de fitoterápicos disponíveis para uso da população, com segurança e eficácia para o tratamento de determinada doença.
Fitoterápico, de acordo com a legislação sanitária brasileira, é o medicamento obtido exclusivamente a partir de matérias-primas ativas vegetais. Os fitoterápicos utilizados pelo SUS são aprovados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e, por isso, são considerados seguros e eficazes para a população.
Conheça as plantas medicinais que compõem a RENISUS:
. Achillea millefolium
. Allium sativum
. Aloe spp* (A. vera ou A. barbadensis)
. Alpinia spp* (A. zerumbet ou A. speciosa)
. Anacardium occidentale
. Ananas comosus
. Apuleia ferrea = Caesalpinia ferrea *
Arrabidaea chica
. Artemisia absinthium
. Baccharis trimera
. Bauhinia spp* (B. affinis, B. forficata ou B. variegata)
. Bidens pilosa
. Calendula officinalis
Carapa guianensis
. Casearia sylvestris
. Chamomilla recutita = Matricaria chamomilla = Matricaria recutita
. Chenopodium ambrosioides
.Copaifera spp*
.Cordia spp* (C. curassavica ou C. verbenacea)*
..Costus spp* (C. scaber ou C. spicatus)
.Croton spp (C. cajucara ou C. zehntneri)
. Curcuma longa
. Cynara scolymus
. Dalbergia subcymosa
. Eleutherine plicata
. Equisetum arvense
. Erythrina mulungu
. Eucalyptus globules
. Eugenia uniflora ou Myrtus brasiliana*
. Foeniculum vulgare
. Glycine Max
. Harpagophytum procumbens
. Jatropha gossypiifolia
. Justicia pectoralis
. Kalanchoe pinnata = Bryophyllum calycinum*
. Lamium album
. Lippia sidoides
. Malva sylvestris
. Maytenus spp* (M. aquifolium ou M. ilicifolia
. Mentha pulegium
. Mentha spp* (M. crispa, M. piperita ou M. villosa)
. Mikania spp* (M. glomerata ou M. laevigata)
. Momordica charantia
. Morus sp*
. Ocimum gratissimum
. Orbignya speciosa
. Passiflora spp* (P. alata, P. edulis ou P. incarnata)
. Persea spp* (P. gratissima ou P. americana)
. Petroselinum sativum
. Phyllanthus spp* (P. amarus, P.niruri, P. tenellus e P. urinaria)
. Plantago major
. Plectranthus barbatus = Coleus barbatus
. Polygonum spp* (P. acre ou P. hydropiperoides)
. Portulaca pilosa
. Psidium guajava
. Punica granatum
. Rhamnus purshiana
. Ruta graveolens
. Salix Alba
. Schinus terebinthifolius = Schinus aroeira
. Solanum paniculatum
. Solidago microglossa. Stryphnodendron adstringens = Stryphnodendron barbatimam
. Syzygium spp* (S. jambolanum ou S. cumini)
. Tabebuia avellanedeae
. Tagetes minuta
. Trifolium pratense
. Uncaria tomentosa
. Vernonia condensata
. Vernonia spp* (V. ruficoma ou V. polyanthes)
. Zingiber officinale
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
XXX CONGRESSO BRASILEIRO DE HOMEOPATIA - 22 a 27/10 -RECIFE -
HOMEOPATIA - UMA ABORDAGEM SISTÊMICA DO SER
http://homeopatia.itarget.com.br/?op=paginas&tipo=secao&secao=2&pagina=1
http://homeopatia.itarget.com.br/?op=paginas&tipo=secao&secao=2&pagina=1
terça-feira, 5 de outubro de 2010
LIGA MEDICORUM HOMOEOPATHICA INTERNATIONALIS - LMHI
Conheça o site da Liga Homeopática Internacional, instituição fundada em Geneve em 1925.
http://liga.iwmh.net/
http://liga.iwmh.net/
DEPOIMENTO - A HOMEOPATIA FUNCIONA
(Imagem: Ledum palustre)
Para muitas pessoas, os medicamentos homeopáticos não passam de soluções aquosas que não contêm nenhum princípio ativo capaz de curar doenças e apenas funcionam graças à autossugestão dos pacientes, que depositam sua fé nos remédios. Em outras palavras – usando o termo que os críticos dessa terapêutica costumam usar –, os medicamentos homeopáticos são apenas placebo, já que funcionariam por sugestão do paciente. Visto dessa maneira, considera-se que as pessoas podem ser influenciadas pelo conhecimento e pela explicação que os terapeutas dão acerca dos benefícios do medicamento selecionado. Ou, ainda, que são influenciadas pela vontade de experimentar em si mesmas um medicamento homeopático que funcionou para outras pessoas, sem saber que, em homeopatia, o que constitui uma medicação eficiente para um doente não necessariamente funciona para outro.
Se esse pensamento estivesse correto, como explicaríamos os resultados obtidos a partir da utilização de medicamentos homeopáticos em animais? Nesse caso, onde estariam a sugestão, a explicação do terapeuta etc.? Os animais não têm consciência disso, simplesmente ficam doentes e reagem como tal, não sendo capazes de distorcer ou inventar um sintoma. De fato, os animais não podem falar para expor seus sofrimentos, de modo que precisamos partir da observação clínica do paciente e das informações dadas pelo criador, que são insuficientes em muitos casos. Dessa forma, os animais ingerem os medicamentos a eles ministrados provavelmente sem dar-se conta de que estão sendo medicados, caso o remédio seja colocado na água ou no alimento.
Em Cuba, a aplicação de terapêuticas naturais é uma opção válida, economicamente viável, uma vez que tem ocorrido, em muitas ocasiões, escassez de medicamentos veterinários devido ao bloqueio econômico dos EUA, afetando inclusive o fornecimento das pré-misturas de vitaminas e minerais que devem ser adicionadas às rações, e que são tão necessárias ao desenvolvimento e ao crescimento de animais de produção. Tais dificuldades foram supridas com o uso de medicamentos homeopáticos, utilizados inclusive para facilitar o consumo de rações de outros tipos e categorias. Um dos medicamentos homeopáticos utilizados foi o Nux Vomica – excelente digestivo – unido a um complexo homeopático composto por Calcárea Fosfórica, Silicia Terra, Ferrum e Avena Sativa, que garantiram tanto o crescimento quanto o aumento de peso de aves criadas para o consumo por trabalhadores, nos chamados comedores obreros . Essas aves estavam sendo alimentadas com ração de porco e, por conta disso, apresentavam alta taxa de mortalidade, atraso no crescimento e baixo aumento de peso, tornando as criações praticamente inviáveis, devido às perdas econômicas acarretadas.
Outra experiência importante foi realizada pelo doutor Yolexis Valdés, que aplicou um complexo homeopático para combater a “picagem”, espécie de canibalismo ocorrido com frequência entre aves quando há deficiência alimentar, tanto na quantidade quanto na qualidade. Ao compararmos o tratamento homeopático realizado com o tratamento habitual, notamos que aquele foi mais efetivo, mais econômico e mais rápido. Também foi feito um controle de carrapatos, utilizando Ledum e Psorinum a 200 CH, pelos doutores Ramón López e Germán Guajardo.
Assim como esses, muitos são os exemplos que podemos apresentar e que podem constituir temas dos próximos artigos, com o objetivo de que a homeopatia seja vista não apenas como outra opção terapêutica, mas como ação preventiva, podendo, inclusive, humanizar e facilitar o trabalho do produtor.
Doutora Aymara M. Hernández Gómez.
Mestre em medicina veterinária, especialista em epizootiologia e especializada em homeopatia.
*refeitórios populares criados em Cuba durante o governo de Fidel Castro e fechados, em 2009, por seu irmão Raul Castro.
http://www.ecomedicina.com.br/site/conteudo/testemunho8.asp
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Medicamentos Fitoterápicos - Informações Gerais
Qual a diferença entre planta medicinal e fitoterápico?
As plantas medicinais são aquelas capazes de aliviar ou curar enfermidades e têm tradição de uso como remédio em uma população ou comunidade. Para usá-las, é preciso conhecer a planta e saber onde colher e como prepará-la.
Quando a planta medicinal é industrializada para se obter um medicamento, tem-se como resultado o fitoterápico. O processo de industrialização evita contaminações por microorganismos, agrotóxicos e substâncias estranhas, além de padronizar a quantidade e a forma certa que deve ser usada, permitindo uma maior segurança de uso.
Os fitoterápicos industrializados devem ser registrados no Anvisa/Ministério da Saúde antes de serem comercializados.
O que não é considerado fitoterápico?
Chá. No Brasil, os chás são enquadrados como alimentos.
Homeopatia. Os medicamentos homeopáticos são produzidos de forma diferente dos fitoterápicos, através de dinamização. Neste tipo de terapia, são também utilizados, além de princípios ativos de origem vegetal, outros de origem animal, mineral e sintética.
Partes de plantas medicinais. As plantas medicinais são consideradas matérias primas a partir do qual é produzido o fitoterápico. As plantas medicinais podem ser comercializadas no Brasil em farmácias e ervanarias, desde que não apresentem indicações terapêuticas definidas, seja feito um acondicionamento adequado e declarada sua classificação botânica.
As farmácias de manipulação podem produzir fitoterápicos?
Sim. As farmácias de manipulação têm permissão para manipular medicamentos e entre eles, os fitoterápicos, lembrando que os produtos dessas farmácias não são registrados na Anvisa. Um fitoterápico pode ser manipulado se for prescrito em uma receita ou se sua fórmula constar na Farmacopéia Brasileira, no Formulário Nacional ou em obras equivalentes.
Os fitoterápicos podem fazer mal à saúde?
Como qualquer medicamento, o mau uso de fitoterápicos pode ocasionar problemas à saúde, como por exemplo: alterações na pressão arterial, problemas no sistema nervoso central, fígado e rins, que podem levar a internações hospitalares e até mesmo a morte, dependendo da forma de uso.
Quais as precauções que devem ser tomadas em relação aos fitoterápicos?
Os cuidados são os mesmos destinados aos outros medicamentos:
* Buscar informações com os profissionais de saúde;
* Informar ao seu médico qualquer reação desagradável que aconteça enquanto estiver usando plantas medicinais ou fitoterápicos;
*-Observar cuidados especiais com gestantes, mulheres amamentando, crianças e idosos;
* Informar ao seu médico se está utilizando plantas medicinais ou fitoterápicos, principalmente antes de cirurgias;
* Adquirir fitoterápicos apenas em farmácias e drogarias autorizadas pela Vigilância Sanitária;
* Seguir as orientações da bula e rotulagem;
* Observar a data de validade – Nunca tomar medicamentos vencidos;
* Seguir corretamente os cuidados de armazenamento;
* Desconfiar de produtos que prometem curas milagrosas.
Há problemas em usar outros medicamentos junto com fitoterápicos?
Os fitoterápicos são medicamentos alopáticos, possuindo compostos químicos que podem interagir com outros medicamentos. As plantas medicinais também possuem compostos químicos ativos que podem promover este tipo de interação.
Deve-se ter cuidado ao associar medicamentos, ou medicamentos com plantas medicinais, o que pode promover a diminuição dos efeitos ou provocar reações indesejadas
Um exemplo é o uso de Hipérico (Hypericum perforatum) junto a anticoncepcionais podendo levar à gravidez, outro é o uso de Ginco (Ginkgo biloba) junto a anticoagulantes, como warfarina ou ácido acetilsalisílico, podendo promover hemorragias.
Deve-se sempre observar as informações contidas nas bulas disponibilizadas nos medicamentos e questionar o seu médico ou profissional de saúde sobre possíveis interações.
Como saber se um fitoterápico é registrado na Anvisa/ Ministério da Saúde?
Verifique na embalagem o número de inscrição do medicamento no Ministério da Saúde. Deve haver a sigla MS, seguida de um número contendo de 9 a 13 dígitos, iniciado sempre por 1
Um produto na apresentação de óleo pode ser registrado como medicamento fitoterápico?
A RDC 48/04 informa em seu item 'abrangência' que os medicamentos cujos princípios ativos sejam exclusivamente derivados de drogas vegetais serão objetos de registro como fitoterápicos. No item 'definições' descreve os derivados de droga vegetal como 'produtos de extração da matéria-prima vegetal: extrato, tintura, ÓLEO, exsudato'...
Portanto, quando o óleo de copaíba, óleo de rícino, óleo de alho, etc. apresentam alegações terapêuticas, são registrados como medicamentos fitoterápicos, desde que comprovem sua qualidade, segurança de uso e indicações terapêuticas.
Medicamentos Fitoterápicos - Informações Gerais
http://http://www.anvisa.gov.br/
As plantas medicinais são aquelas capazes de aliviar ou curar enfermidades e têm tradição de uso como remédio em uma população ou comunidade. Para usá-las, é preciso conhecer a planta e saber onde colher e como prepará-la.
Quando a planta medicinal é industrializada para se obter um medicamento, tem-se como resultado o fitoterápico. O processo de industrialização evita contaminações por microorganismos, agrotóxicos e substâncias estranhas, além de padronizar a quantidade e a forma certa que deve ser usada, permitindo uma maior segurança de uso.
Os fitoterápicos industrializados devem ser registrados no Anvisa/Ministério da Saúde antes de serem comercializados.
O que não é considerado fitoterápico?
Chá. No Brasil, os chás são enquadrados como alimentos.
Homeopatia. Os medicamentos homeopáticos são produzidos de forma diferente dos fitoterápicos, através de dinamização. Neste tipo de terapia, são também utilizados, além de princípios ativos de origem vegetal, outros de origem animal, mineral e sintética.
Partes de plantas medicinais. As plantas medicinais são consideradas matérias primas a partir do qual é produzido o fitoterápico. As plantas medicinais podem ser comercializadas no Brasil em farmácias e ervanarias, desde que não apresentem indicações terapêuticas definidas, seja feito um acondicionamento adequado e declarada sua classificação botânica.
As farmácias de manipulação podem produzir fitoterápicos?
Sim. As farmácias de manipulação têm permissão para manipular medicamentos e entre eles, os fitoterápicos, lembrando que os produtos dessas farmácias não são registrados na Anvisa. Um fitoterápico pode ser manipulado se for prescrito em uma receita ou se sua fórmula constar na Farmacopéia Brasileira, no Formulário Nacional ou em obras equivalentes.
Os fitoterápicos podem fazer mal à saúde?
Como qualquer medicamento, o mau uso de fitoterápicos pode ocasionar problemas à saúde, como por exemplo: alterações na pressão arterial, problemas no sistema nervoso central, fígado e rins, que podem levar a internações hospitalares e até mesmo a morte, dependendo da forma de uso.
Quais as precauções que devem ser tomadas em relação aos fitoterápicos?
Os cuidados são os mesmos destinados aos outros medicamentos:
* Buscar informações com os profissionais de saúde;
* Informar ao seu médico qualquer reação desagradável que aconteça enquanto estiver usando plantas medicinais ou fitoterápicos;
*-Observar cuidados especiais com gestantes, mulheres amamentando, crianças e idosos;
* Informar ao seu médico se está utilizando plantas medicinais ou fitoterápicos, principalmente antes de cirurgias;
* Adquirir fitoterápicos apenas em farmácias e drogarias autorizadas pela Vigilância Sanitária;
* Seguir as orientações da bula e rotulagem;
* Observar a data de validade – Nunca tomar medicamentos vencidos;
* Seguir corretamente os cuidados de armazenamento;
* Desconfiar de produtos que prometem curas milagrosas.
Há problemas em usar outros medicamentos junto com fitoterápicos?
Os fitoterápicos são medicamentos alopáticos, possuindo compostos químicos que podem interagir com outros medicamentos. As plantas medicinais também possuem compostos químicos ativos que podem promover este tipo de interação.
Deve-se ter cuidado ao associar medicamentos, ou medicamentos com plantas medicinais, o que pode promover a diminuição dos efeitos ou provocar reações indesejadas
Um exemplo é o uso de Hipérico (Hypericum perforatum) junto a anticoncepcionais podendo levar à gravidez, outro é o uso de Ginco (Ginkgo biloba) junto a anticoagulantes, como warfarina ou ácido acetilsalisílico, podendo promover hemorragias.
Deve-se sempre observar as informações contidas nas bulas disponibilizadas nos medicamentos e questionar o seu médico ou profissional de saúde sobre possíveis interações.
Como saber se um fitoterápico é registrado na Anvisa/ Ministério da Saúde?
Verifique na embalagem o número de inscrição do medicamento no Ministério da Saúde. Deve haver a sigla MS, seguida de um número contendo de 9 a 13 dígitos, iniciado sempre por 1
Um produto na apresentação de óleo pode ser registrado como medicamento fitoterápico?
A RDC 48/04 informa em seu item 'abrangência' que os medicamentos cujos princípios ativos sejam exclusivamente derivados de drogas vegetais serão objetos de registro como fitoterápicos. No item 'definições' descreve os derivados de droga vegetal como 'produtos de extração da matéria-prima vegetal: extrato, tintura, ÓLEO, exsudato'...
Portanto, quando o óleo de copaíba, óleo de rícino, óleo de alho, etc. apresentam alegações terapêuticas, são registrados como medicamentos fitoterápicos, desde que comprovem sua qualidade, segurança de uso e indicações terapêuticas.
Medicamentos Fitoterápicos - Informações Gerais
http://http://www.anvisa.gov.br/
Medicamentos Fitoterápicos - Isoflavonas
As isoflavonas são substâncias, presentes principalmente na soja e em seus derivados, denominadas de fitoestrógenos por apresentarem semelhança estrutural com os hormônios estrogênicos, encontrados em maior concentração nas mulheres
As isoflavonas podem ocorrer em diversas formas moleculares: Malonil derivados e Beta-Glicosídeos, que ocorrem naturalmente nos grãos da soja e na farinha de soja, e os Acetil derivados e as Agliconas, que são formados durante o processamento industrial da soja ou no metabolismo da soja no organismo. O isolado protéico de soja possui maiores teores das formas agliconas.
Os conteúdos ou os teores de isoflavonas presentes nos produtos comerciais variam?
Sim, existe variabilidade nos níveis das isoflavonas, tendo em vista que a quantidade das isoflavonas nos vegetais varia em função do local de plantio, clima, disponibilidade de água e variedade da espécie vegetal. A forma de obtenção e processamento industrial do produto também influenciam nos teores finais de isoflavonas.
Relatos de pesquisas têm indicado que grande parte dos produtos derivados da soja desenvolvidos pelas indústrias apresenta isoflavonas em formas e quantidades variáveis, indicando a falta de controle efetivo da matéria-prima o que dificulta a padronização de concentração de isoflavona contida nestes produtos.
As isoflavonas têm a mesma biodisponibilidade (capacidade de absorção e utilização pelo organismo)?
Não. A sua absorção varia com a dieta, sensibilidade individual, perfil genético e fase da vida. A estrutura das isoflavonas, o processamento industrial e a composição do produto também influenciam em sua absorção no organismo.
Quais as fontes de isoflavona? Em que parte do vegetal pode ser encontrada?
As isoflavonas são encontradas no grão de soja, brotos de alfafa, sementes de linhaça, trevo vermelho, entre outros vegetais. Na soja, as isoflavonas estão distribuídas em todo o grão, tendo maior concentração no gérmen do grão da soja.
Quais são os efeitos das isoflavonas no nosso organismo?
As evidências científicas existentes, até o momento, sobre os efeitos das isoflavonas permitem reconhecer como viável apenas o seu uso para o alívio das ondas de calor associadas à menopausa ("fogachos") e como auxiliar na redução dos níveis de colesterol, desde que prescrito por profissional habilitado, tendo em vista que a quantidade e o período de utilização está diretamente relacionado com a condição de saúde do indivíduo e as restrições aos grupos populacionais específicos. Demais alegações das isoflavonas, relacionadas a câncer, osteoporose, reposição hormonal, redução do risco de doenças cardiovasculares, não têm comprovação científica suficiente para justificar o seu uso
Quanto à substituição de tratamentos convencionais por isoflavonas ou mesmo sua introdução complementar em esquemas terapêuticos, só deve ser feita após avaliação do médico responsável pelo tratamento.
Maiores informações pelo e-mail fitoterapicos@anvisa.gov.br
http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/busca/!=/
As isoflavonas podem ocorrer em diversas formas moleculares: Malonil derivados e Beta-Glicosídeos, que ocorrem naturalmente nos grãos da soja e na farinha de soja, e os Acetil derivados e as Agliconas, que são formados durante o processamento industrial da soja ou no metabolismo da soja no organismo. O isolado protéico de soja possui maiores teores das formas agliconas.
Os conteúdos ou os teores de isoflavonas presentes nos produtos comerciais variam?
Sim, existe variabilidade nos níveis das isoflavonas, tendo em vista que a quantidade das isoflavonas nos vegetais varia em função do local de plantio, clima, disponibilidade de água e variedade da espécie vegetal. A forma de obtenção e processamento industrial do produto também influenciam nos teores finais de isoflavonas.
Relatos de pesquisas têm indicado que grande parte dos produtos derivados da soja desenvolvidos pelas indústrias apresenta isoflavonas em formas e quantidades variáveis, indicando a falta de controle efetivo da matéria-prima o que dificulta a padronização de concentração de isoflavona contida nestes produtos.
As isoflavonas têm a mesma biodisponibilidade (capacidade de absorção e utilização pelo organismo)?
Não. A sua absorção varia com a dieta, sensibilidade individual, perfil genético e fase da vida. A estrutura das isoflavonas, o processamento industrial e a composição do produto também influenciam em sua absorção no organismo.
Quais as fontes de isoflavona? Em que parte do vegetal pode ser encontrada?
As isoflavonas são encontradas no grão de soja, brotos de alfafa, sementes de linhaça, trevo vermelho, entre outros vegetais. Na soja, as isoflavonas estão distribuídas em todo o grão, tendo maior concentração no gérmen do grão da soja.
Quais são os efeitos das isoflavonas no nosso organismo?
As evidências científicas existentes, até o momento, sobre os efeitos das isoflavonas permitem reconhecer como viável apenas o seu uso para o alívio das ondas de calor associadas à menopausa ("fogachos") e como auxiliar na redução dos níveis de colesterol, desde que prescrito por profissional habilitado, tendo em vista que a quantidade e o período de utilização está diretamente relacionado com a condição de saúde do indivíduo e as restrições aos grupos populacionais específicos. Demais alegações das isoflavonas, relacionadas a câncer, osteoporose, reposição hormonal, redução do risco de doenças cardiovasculares, não têm comprovação científica suficiente para justificar o seu uso
Quanto à substituição de tratamentos convencionais por isoflavonas ou mesmo sua introdução complementar em esquemas terapêuticos, só deve ser feita após avaliação do médico responsável pelo tratamento.
Maiores informações pelo e-mail fitoterapicos@anvisa.gov.br
http://portal.anvisa.gov.br/wps/portal/anvisa/busca/!=/
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
As Transformações Silenciosas, de François Jullien
Leia o texto de Kathrin Rosenfield sobre a obra de François Jullien.
É um fato curioso que os processos mais importantes para a nossa felicidade – por exemplo, o inevitável esfriar das relações amorosas com pessoas e coisas, o desgastar-se de acontecimentos, palavras e ideias cruciais e, sobretudo, a singela experiência do envelhecer – são as que menos pensamos e as que não recebem destaque no pensamento filosófico do ocidente. O que distingue nosso modo de ver e pensar o mundo do pensamento oriental – eis o tema da palestra “As transformações silenciosas” de François Jullien, no dia 30 de Setembro, no Salão de Atos II da UFRGS.
Vivemos numa cultura cujas formas de expressão tendem a ocultar e negar as transformações sorrateiras, que ocorrem à revelia do controle vigilante da consciência e do cálculo racional. Somos pouco dispostos a notar as quase insensíveis alterações que ameaçam o artifício tipicamente ocidental: a construção de ideias da permanência estável (o Ser), de fatos e individualidades isolados. O ‘eu’ que se concebe como autônomo, repudia os processos que fogem ao seu controle e tende a perder de vista as constelações que contrariam sua vontade e intenção.
O ocidente privilegia a ação e os eventos pontuais, alinhados nos grandes relatos que realçam as continuidades e as rupturas que desenham a linha do tempo histórico. A China, ao contrário, está atenta aos conjuntos mais amplos: são decisivos menos as ações isoladas e os acontecimentos destacados, do que incontáveis elementos que compõem um processo, e os fatores mínimos que já anunciam sua transformação. Vigilante aos detalhes interligados, cujos liames estão em permanente mudança, o pensador oriental observa as correntes e tendências que constituem seu movimento vivo e pulsante; não isola a essência, o Ser e a Verdade, nem separa o ser (divino) da aparência (terrena). Vê o mundo e o cosmos como um único processo, fluxo contínuo em constante transição. Nós ocidentais perguntamos o que é ou está; para os orientais importa antes a leitura dos sinais que anunciam novas possibilidades e as tendências ínfimas que regem as constelações nas quais nos movemos. Técnicas milenares como o I Ching aguçaram o olhar para que capte essas tendências e quem as pratica treina sua percepção (e sua paciência) para estar disposto a inserir-se em possíveis transformações.
Esse olhar é muito diferente do voluntarismo individualista europeu, que acredita na força “proativa” dos indivíduos e no seu poder de determinar e controlar a trajetória dos processos. O pensamento oriental não dá esse destaque ao indivíduo que é antes parte ínfima de processos que o ultrapassam. A ação apenas pode tirar vantagem dos movimentos já em curso, inserindo-se favoravelmente neles. Nada poderia ser mais estranho ao pensamento ocidental, tão propenso a engrandecer a conquista ímpar do sujeito singular: somos recalcitrantes à sabedoria oriental do Tao que celebra o “caminho” traçado por inúmeras forças, que se entrelaçam inextricavelmente.
Mas o livro de Jullien não insiste meramente no contraste entre Oriente e Ocidente. Mostra também a abertura da nossa cultura às outras formas de pensar e ver o mundo. Pela sua vocação de universalidade, nossa cultura começou a fugir da rigidez dos conceitos e dos dogmas, criticou a repetição mecânica das suas tradições empobrecidas, e cultua a abertura de reinventar-se. Apesar das convenções poderosas, há também no ocidente indivíduos e grupos atentas à fluidez da vida – basta lembrar como exemplo a arte de J. G. Rosa, cuja reflexão sobre a ‘matéria vertente’ se pautava no Tao.
Assim, Jullien dedica boa parte de seu ensaio às artes e disciplinas ocidentais que aprimoram a sensibilidade e a sabedoria voltadas para os processos decisivos, embora excessivamente sutis que afetam nossa vida e nossa felicidade. A poesia e o romance preenchem esse papel importante na cultura europeia. Mas eles não são as únicas “máquinas de transformações silenciosas” (65). Também a psicanálise baseia-se na reeducação das formas de ver e sentir, de pensar e viver: não oferece “cura” ingênua, mas ensina ver de outra maneira, a considerar outras possibilidades – possíveis reviravoltas – já inscritas nas constelações que consideramos como infelizes. É esse outro olhar que leva a desistir da repetição compulsiva de sofrimentos fixados por hábitos mentais neuróticos.
Diferente da auto-ajuda que foca a solução de problemas pontuais, a psicanálise nos prepara para o processo “infinito” da existência, que menos evolui (como nós tendemos a pensar) do que “verte” em imperceptíveis reviravoltas: “Para que algo possa se inverter no seu contrário – como, por exemplo, o amor em indiferença, desgosto e ódio – é preciso que ele já contenha esse contrário em si mesmo... a morte está sempre já na vida e caminha nela: eis porque morremos um dia de morte natural. Ou a pulsão de morte, que não é somente o outro de Eros, mas, segundo Freud, a negatividade que se exerce dentro da pulsão sexual, que trabalha nela e impede a plena satisfação” (85). Por mais que avancemos na descoberta de traumas e causas do nosso sofrimento, mais nos treinamos na “perlaboração”: a demanda de compreensão racional começa a ceder a um outro entendimento, a uma “entrega” sutil de quem vê e navega melhor – aproveitando as oportunidades de sair das cadeias causais para a reviravolta.
Nos “curamos” não pelo viés da interpretação e da argumentação (que nos aprisionam na lógica da não-contradição e que detesta, desde Platão, as “correntes contrárias do Euripe”); nos curamos porque o caminho/Tao da análise nos proporciona a experiência de ver como são as coisas: correntes movidas por contracorrentes – nada mais, nada menos. Como o “Clássico da mudança” chinês, que fala do yin e do yang, a psicanálise nos reensina a lógica da contradição: a todo o momento podemos aproveitar as forças contrárias para que se inclinem na direção da sua contra-corrente.
É o momento em que a esperança terapêutica ingênua se verifica – pelo avesso: não temos nada de novo a aprender. Tudo que é relevante, já o sabíamos. Mas é nesse momento que podemos começar a prestar atenção aos processos sutis que viabilizam reversões surpreendentes. Eis a grande diferença que Freud (re)introduziu no pensamento ocidental – desafiando a metafísica voltada para o Ser, a Verdade, a firmeza de determinações que põem fim e limite à fluidez do viver.
Não é dos orientais, mas dos mitos e da poesia grega que Freud imitou os processos fluidos e o pensamento paradoxal. E todos que passaram pela análise ou por terapias afins (sejam elas corporais ou verbais) sabem dar valor às sutis transformações do crescer, envelhecer e amar: são aventuras labirínticas e paradoxais às quais não precisamos assistir passivamente. Podemos cultivar um carinho pelos seus processos sutis e contraditórios, e praticar uma arte mais graciosa de viver, envelhecer e amar.
Não há pensador mais oportuno do que François Jullien para o evento O Mal-estar na Cultura. Pois o objetivo deste evento estendido sobre um período relativamente longo é detectar – e deixar vir à tona – as possibilidades de diálogo entre disciplinas e culturas, ideias e pessoas diferentes. Em vez de encenar novidades espetaculares, propomos aproveitar as afinidades entre conhecimentos, práticas e sabedorias que poderiam nos ajudar a melhor enfrentar as nossas transformações silenciosas.
http://www.malestarnacultura.ufrgs.br/lerdocumento.php?idtitulo=02a137de8543e84be3330256a132ff6b
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É um fato curioso que os processos mais importantes para a nossa felicidade – por exemplo, o inevitável esfriar das relações amorosas com pessoas e coisas, o desgastar-se de acontecimentos, palavras e ideias cruciais e, sobretudo, a singela experiência do envelhecer – são as que menos pensamos e as que não recebem destaque no pensamento filosófico do ocidente. O que distingue nosso modo de ver e pensar o mundo do pensamento oriental – eis o tema da palestra “As transformações silenciosas” de François Jullien, no dia 30 de Setembro, no Salão de Atos II da UFRGS.
Vivemos numa cultura cujas formas de expressão tendem a ocultar e negar as transformações sorrateiras, que ocorrem à revelia do controle vigilante da consciência e do cálculo racional. Somos pouco dispostos a notar as quase insensíveis alterações que ameaçam o artifício tipicamente ocidental: a construção de ideias da permanência estável (o Ser), de fatos e individualidades isolados. O ‘eu’ que se concebe como autônomo, repudia os processos que fogem ao seu controle e tende a perder de vista as constelações que contrariam sua vontade e intenção.
O ocidente privilegia a ação e os eventos pontuais, alinhados nos grandes relatos que realçam as continuidades e as rupturas que desenham a linha do tempo histórico. A China, ao contrário, está atenta aos conjuntos mais amplos: são decisivos menos as ações isoladas e os acontecimentos destacados, do que incontáveis elementos que compõem um processo, e os fatores mínimos que já anunciam sua transformação. Vigilante aos detalhes interligados, cujos liames estão em permanente mudança, o pensador oriental observa as correntes e tendências que constituem seu movimento vivo e pulsante; não isola a essência, o Ser e a Verdade, nem separa o ser (divino) da aparência (terrena). Vê o mundo e o cosmos como um único processo, fluxo contínuo em constante transição. Nós ocidentais perguntamos o que é ou está; para os orientais importa antes a leitura dos sinais que anunciam novas possibilidades e as tendências ínfimas que regem as constelações nas quais nos movemos. Técnicas milenares como o I Ching aguçaram o olhar para que capte essas tendências e quem as pratica treina sua percepção (e sua paciência) para estar disposto a inserir-se em possíveis transformações.
Esse olhar é muito diferente do voluntarismo individualista europeu, que acredita na força “proativa” dos indivíduos e no seu poder de determinar e controlar a trajetória dos processos. O pensamento oriental não dá esse destaque ao indivíduo que é antes parte ínfima de processos que o ultrapassam. A ação apenas pode tirar vantagem dos movimentos já em curso, inserindo-se favoravelmente neles. Nada poderia ser mais estranho ao pensamento ocidental, tão propenso a engrandecer a conquista ímpar do sujeito singular: somos recalcitrantes à sabedoria oriental do Tao que celebra o “caminho” traçado por inúmeras forças, que se entrelaçam inextricavelmente.
Mas o livro de Jullien não insiste meramente no contraste entre Oriente e Ocidente. Mostra também a abertura da nossa cultura às outras formas de pensar e ver o mundo. Pela sua vocação de universalidade, nossa cultura começou a fugir da rigidez dos conceitos e dos dogmas, criticou a repetição mecânica das suas tradições empobrecidas, e cultua a abertura de reinventar-se. Apesar das convenções poderosas, há também no ocidente indivíduos e grupos atentas à fluidez da vida – basta lembrar como exemplo a arte de J. G. Rosa, cuja reflexão sobre a ‘matéria vertente’ se pautava no Tao.
Assim, Jullien dedica boa parte de seu ensaio às artes e disciplinas ocidentais que aprimoram a sensibilidade e a sabedoria voltadas para os processos decisivos, embora excessivamente sutis que afetam nossa vida e nossa felicidade. A poesia e o romance preenchem esse papel importante na cultura europeia. Mas eles não são as únicas “máquinas de transformações silenciosas” (65). Também a psicanálise baseia-se na reeducação das formas de ver e sentir, de pensar e viver: não oferece “cura” ingênua, mas ensina ver de outra maneira, a considerar outras possibilidades – possíveis reviravoltas – já inscritas nas constelações que consideramos como infelizes. É esse outro olhar que leva a desistir da repetição compulsiva de sofrimentos fixados por hábitos mentais neuróticos.
Diferente da auto-ajuda que foca a solução de problemas pontuais, a psicanálise nos prepara para o processo “infinito” da existência, que menos evolui (como nós tendemos a pensar) do que “verte” em imperceptíveis reviravoltas: “Para que algo possa se inverter no seu contrário – como, por exemplo, o amor em indiferença, desgosto e ódio – é preciso que ele já contenha esse contrário em si mesmo... a morte está sempre já na vida e caminha nela: eis porque morremos um dia de morte natural. Ou a pulsão de morte, que não é somente o outro de Eros, mas, segundo Freud, a negatividade que se exerce dentro da pulsão sexual, que trabalha nela e impede a plena satisfação” (85). Por mais que avancemos na descoberta de traumas e causas do nosso sofrimento, mais nos treinamos na “perlaboração”: a demanda de compreensão racional começa a ceder a um outro entendimento, a uma “entrega” sutil de quem vê e navega melhor – aproveitando as oportunidades de sair das cadeias causais para a reviravolta.
Nos “curamos” não pelo viés da interpretação e da argumentação (que nos aprisionam na lógica da não-contradição e que detesta, desde Platão, as “correntes contrárias do Euripe”); nos curamos porque o caminho/Tao da análise nos proporciona a experiência de ver como são as coisas: correntes movidas por contracorrentes – nada mais, nada menos. Como o “Clássico da mudança” chinês, que fala do yin e do yang, a psicanálise nos reensina a lógica da contradição: a todo o momento podemos aproveitar as forças contrárias para que se inclinem na direção da sua contra-corrente.
É o momento em que a esperança terapêutica ingênua se verifica – pelo avesso: não temos nada de novo a aprender. Tudo que é relevante, já o sabíamos. Mas é nesse momento que podemos começar a prestar atenção aos processos sutis que viabilizam reversões surpreendentes. Eis a grande diferença que Freud (re)introduziu no pensamento ocidental – desafiando a metafísica voltada para o Ser, a Verdade, a firmeza de determinações que põem fim e limite à fluidez do viver.
Não é dos orientais, mas dos mitos e da poesia grega que Freud imitou os processos fluidos e o pensamento paradoxal. E todos que passaram pela análise ou por terapias afins (sejam elas corporais ou verbais) sabem dar valor às sutis transformações do crescer, envelhecer e amar: são aventuras labirínticas e paradoxais às quais não precisamos assistir passivamente. Podemos cultivar um carinho pelos seus processos sutis e contraditórios, e praticar uma arte mais graciosa de viver, envelhecer e amar.
Não há pensador mais oportuno do que François Jullien para o evento O Mal-estar na Cultura. Pois o objetivo deste evento estendido sobre um período relativamente longo é detectar – e deixar vir à tona – as possibilidades de diálogo entre disciplinas e culturas, ideias e pessoas diferentes. Em vez de encenar novidades espetaculares, propomos aproveitar as afinidades entre conhecimentos, práticas e sabedorias que poderiam nos ajudar a melhor enfrentar as nossas transformações silenciosas.
http://www.malestarnacultura.ufrgs.br/lerdocumento.php?idtitulo=02a137de8543e84be3330256a132ff6b
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História da Fitoterapia no Brasil - Von Martius
MARTIUS (1794-1868):
- Médico, zoólogo e botânico alemão, que dedicou a maior parte de sua vida ao estudo da flora brasileira. Coordenou uma equipe de botânicos para escrever a maior obra de botânica sobre o Brasil, a “Flora Brasiliensis”, terminada em 1906, após a sua morte. Das 10.000 descrições de espécies, pelo menos 5.939 eram novas para a ciência. Veio ao Brasil em 1817, juntamente com Spix, em expedição científica, que acompanhou a comitiva da arquiduquesa Leopoldina, futura esposa de D. Pedro I. Percorreu o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas. De todas as expedições científicas realizadas no Brasil, esta foi a mais ampla e a de mais profícuos resultados. Os seus trabalhos, conduzidos em boa parte, através de regiões inexploradas, lançaram muita luz sobre a geografia e a etnografia indígena de que colheram rico cabedal, com a organização de vocabulários de diversas línguas sul-americanas. Além disso estudou também as plantas medicinais, inclusive, as espécies utilizadas pelas tribos indígenas. Observou e experimentou inúmeras práticas médicas populares nas regiões por onde percorreu.
MARTIUS, Karl F. P. von:
1843 - Systema Materiae Medicale Vegetabilis Brasiliensis - Lpsiae. Frid. Fleischer - 156 p.
1823/1868 - Flora Brasiliensis - 15 Vol. - Munchen, Wien, Leipzig - Germany - 24.544 p.
1979 - Natureza, Doenças, Medicina, Remédios dos Índios Brasileiros - 2ª Ed. - C.E.N. - S. Paulo -183 p.
SPIX, Johann Baptiste von & Karl F. P. von MARTIUS:
1938 - Viagem pelo Brasil (1817-1820) - 3 Vol.- 1ª Ed. - Imprensa Nacional - Rio de Janeiro - Brasil - 1º v. 389 p. / 2º v. 332 p. / 3º v. 491 p.
Douglas Carrara
Publicado no Recanto das Letras em 21/04/2010
Código do texto: T2211061
- Médico, zoólogo e botânico alemão, que dedicou a maior parte de sua vida ao estudo da flora brasileira. Coordenou uma equipe de botânicos para escrever a maior obra de botânica sobre o Brasil, a “Flora Brasiliensis”, terminada em 1906, após a sua morte. Das 10.000 descrições de espécies, pelo menos 5.939 eram novas para a ciência. Veio ao Brasil em 1817, juntamente com Spix, em expedição científica, que acompanhou a comitiva da arquiduquesa Leopoldina, futura esposa de D. Pedro I. Percorreu o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Pará e Amazonas. De todas as expedições científicas realizadas no Brasil, esta foi a mais ampla e a de mais profícuos resultados. Os seus trabalhos, conduzidos em boa parte, através de regiões inexploradas, lançaram muita luz sobre a geografia e a etnografia indígena de que colheram rico cabedal, com a organização de vocabulários de diversas línguas sul-americanas. Além disso estudou também as plantas medicinais, inclusive, as espécies utilizadas pelas tribos indígenas. Observou e experimentou inúmeras práticas médicas populares nas regiões por onde percorreu.
MARTIUS, Karl F. P. von:
1843 - Systema Materiae Medicale Vegetabilis Brasiliensis - Lpsiae. Frid. Fleischer - 156 p.
1823/1868 - Flora Brasiliensis - 15 Vol. - Munchen, Wien, Leipzig - Germany - 24.544 p.
1979 - Natureza, Doenças, Medicina, Remédios dos Índios Brasileiros - 2ª Ed. - C.E.N. - S. Paulo -183 p.
SPIX, Johann Baptiste von & Karl F. P. von MARTIUS:
1938 - Viagem pelo Brasil (1817-1820) - 3 Vol.- 1ª Ed. - Imprensa Nacional - Rio de Janeiro - Brasil - 1º v. 389 p. / 2º v. 332 p. / 3º v. 491 p.
Douglas Carrara
Publicado no Recanto das Letras em 21/04/2010
Código do texto: T2211061
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Resposta do professor Douglas Carrara à estrevista do Dr. Draúzio Varella à revista Época de 13/08/2010
Prof. Douglas Carrara
http://www.bchicomendes.com/
"Não há porque envergonhar-se de tomar do povo o que pode ser útil à arte de curar." Hipócrates (460-380 a.C.)
Há muito tempo a Antropologia se recusa a utilizar categorias inadequadas para estudar e compreender o pensamento popular à respeito da saúde e da medicina. Os folcloristas no passado se referiam à medicina popular como superstições, crendices, práticas consideradas abomináveis por médicos ou pessoas de formação acadêmica. Esta rejeição pejorativa do pensamento popular ocorre sem nenhuma análise de sua função social, já que as práticas da medicina popular necessitam melhores observações e não podemos
destacá-las pura e simplesmente sem estudar o seu contexto cultural, sem participar da vida, da interação com aqueles que nos deram os informes, geralmente extraídos e exibidos em função de sua estranheza ou seu exotismo.
Muitas práticas consideradas crendices no passado, atualmente são plenamente explicáveis cientificamente. O uso da laranja mofada ou do queijo embolorado, por exemplo, para tratar feridas tem sido uma prática muito mais antiga do que a descoberta da penicilina por Fleming em 1932. Atualmente sabemos que a laranja abandonada no fundo do quintal, quando apodrece é atacada por um fungo do mesmo gênero (*) do bolor utilizado por Fleming para produzir o primeiro antibiótico. E o raizeiro raspa a casca da laranja onde
estava o bolor e passa externamente nas feridas crônicas. Em pouco tempo a inflamação cede e começa o processo de recuperação do paciente. Da mesma forma, em Cesárea, antiga cidade fundada pelos romanos, os armênios tratavam as feridas atônicas, cobrindo-as com queijo mofado, também produzido por um bolor semelhante ao bolor que deu origem à penicilina.
A vacinação anti-variólica, descoberta por Jenner em 1798, responsável pela erradicação da varíola em todo o mundo, uma doença extremamente virulenta e mortal, somente foi possível graças aos próprios camponeses na Inglaterra que, pelo menos, a partir de 1675, se vacinavam, inoculando em si mesmos as
secreções do gado atingido pela varíola bovina. Isto porque eles sabiam que a cow-pox (varíola bovina) era benigna e não matava como a varíola humana. Inclusive o próprio Jenner, médico que, ao atender uma camponesa, e suspeitar de que estivesse com varíola humana, obteve como resposta, e com extrema segurança, o seguinte: " Não posso ter varíola, porque já tive cow-pox." Esta foi a informação que Jenner necessitava para descobrir o princípio da vacina e iniciar o combate a esta terrível doença de maneira
rigorosamente científica. Graças à uma crendice de origem popular, Dr. Dráuzio Varella!
Mas não somente os camponeses ingleses conheciam esta técnica. A inoculação de varíola a fim de provocar uma forma atenuada da mesma era conhecida secularmente na China. A crosta de uma pústula era pulverizada e introduzida no nariz ou insuflada por meio de um tubo de bambu até que se formasse uma
erupção local. Os armênios também se vacinavam muitos séculos antes de Jenner. O padre Lucas Indjidjian, em seu livro "Darap atum" (História dos Séculos), publicado em 1827, descreve as minúcias do método nos seguintes termos: "Os armênios praticavam, há muito tempo, a vacinação contra a varíola, de modo empírico. Consistia seu método em recolher as crostas das pústulas de varíola na fase de descamação e conservá-las nos resíduos de passas de uvas. No momento oportuno, administravam-se essas passas às
pessoas que se pretendia preservar da varíola. Mais tarde, os armênios puseram em prática o método de inoculação por incisão ou fricção, procurando levar o agente portador da varíola por baixo da pele do indivíduo são. Este método profilático foi introduzido em Constantinopla por emigrantes armênios no ano de 1718. Lady Montague, esposa do embaixador inglês junto ao sultão, experimentou sua utilidade em seu próprio filho". (2)
Assim os exemplos são inumeráveis de supostas crendices populares que, com o desenvolvimento da ciência, e a superação dos preconceitos por parte dos cientistas, acabam sendo esclarecidas e enaltecendo a grandeza do pensamento médico popular. O próprio Rousseau afirmava que "sábios tem menos preconceitos do que os ignorantes, porém ficam mais presos aos que possuem."
Por isso é muito difícil convencer um médico preconceituoso e limitado como Dráuzio Varella. O paradigma cartesiano está tão profundamente arraigado e internalizado em seu pensamento que o torna obcecado pelas suas convicções pseudo-científicas. Sabemos hoje que inúmeras plantas medicinais tiveram suaspropriedades medicinais descobertas em ambiente não científico. A planta chinesa ma huang (**) que contém efedrina (alcalóide utilizado como agente cardiovascular) foi empregada empiricamente pelos médicos nativos, hoje em dia, chamados de médicos de pés-descalços, durante mais de 5.000 anos! O receituário chinês menciona que a planta é útil como antipirética, sudorífica, estimulante circulatório e sedativo da tosse. E eu pergunto, isto também era uma crendice, Dr. Dráuzio Varella?
Na Inglaterra, as folhas da planta dedaleira (***) era utilizada sob a forma de infusão para o tratamento da hidropisia (ascite) provocada pela insuficiência cardíaca. Esta prática popular foi recolhida pelo médico inglês Withering em 1771, que documentou toda esta experiência em livro publicado na época. Entretanto somente em 1910 a ação da digitalina (hoje digoxina), glicóside contido na planta, sobre o músculo cardíaco foi explicada de forma científica e até hoje vem sendo aplicada com grande aceitação pela medicina científica e até mesmo pelo médico Dráuzio Varella.
O isolamento da vitamina C e a definitiva explicação das causas do escorbuto são atribuídas a Szent-Gyorgi e King em 1932. Entretanto, o tratamento do escorbuto com cítricos era conhecido desde 1498, quando os marinheiros de Colombo foram acometidos de escorbuto, os homens quase moribundos, pediram para serem deixados numa ilha. Quando meses depois, Colombo retornou à ilha, encontrou seus homens vivos e saudáveis. Durante o período tinham se alimentado de frutos tropicais existentes na ilha e por isso passou a ser chamada de "Curaçao". Em 1593, Mathiolus publicou, na Europa, uma receita em que preconiza o emprego dos frutos da rosa silvestre (****) contra as hemorragias dentárias, assegurando que o pó dentifrício de rosa silvestre fortalece as gengivas. Hoje sabemos que o fruto da rosa silvestre possui altos teores de vitamina C (900 mg). Portanto uma crendice fitoterápica perfeitamente esclarecida.
Um fitoquímico brasileiro, Walter Mors, inclusive, reconheceu que na verdade só podemos admirar a experiência milenar de povos primitivos que, muito antes do surgimento da ciência moderna, descobriram, por exemplo, todas as plantas portadoras de cafeína: o chá na Ásia, o café e a noz-de-cola na África, o guaraná e o mate na América. E o efeito estimulante da cafeína nem é tão flagrante que possa ser reconhecido num simples mascar de folhas ou sementes.
Segundo Muszynski, atualmente conhecemos 12.000 espécies de plantas medicinais que são usadas por diferentes povos em todo o mundo. Convém acrescentar que essas espécies são as selecionadas por diversos povos durante milhares de anos. A ciência moderna não descobriu nenhuma planta nova medicinal ou comestível, mas somente estuda e introduz as já conhecidas popularmente.
Apesar de tudo, o menosprezo pelo saber popular permanece. Para a ciência cartesiana, o único saber válido que existe é apenas o pensamento científico e com isso os demais saberes são na verdade não-ciência, e se um raizeiro descobre alguma propriedade medicinal em uma planta com que convive há anos,
este conhecimento faz parte da biodiversidade na qual está inserido, portanto passível de expropriação por quem possua direitos sobre a área. Tal como no período dos grandes descobrimentos, os direitos são concedidos muito antes da conquista efetiva através da ocupação do território.
Entretanto a história da ciência tem mostrado que as grandes descobertas científicas ocorrem fora do espaço teórico-científico ou universitário. No século XIX, todos os historiadores da química reconheceram o furor experimental dos alquimistas e acabaram rendendo homenagem a alguns descobrimentos positivos, tais como o ácido sulfúrico e o oxigênio, ainda que para eles não fosse uma descoberta. René Dubos, inclusive, talvez o mais importantes biólogo e cientista do século XX, afirma que as principais invenções que deram impulso surpreendente à ciência foi promovida por mecânicos, curiosos, bricoleurs, inventores, etc.
No livro "O Pensamento Selvagem", Lévi-Strauss reconhece a legitimidade e a grandeza do saber indígena e popular. Segundo ele, o pensamento selvagem não é uma estréia, um começo, um esboço, parte de um todo não realizado; na verdade forma um sistema bem articulado; independente, neste ponto, desse outro sistema que constituirá a ciência (cartesiana). Cada uma dessas técnicas, muitas delas oriundas do período neolítico, a cerâmica, a tecelagem, agricultura, o tratamento de doenças com plantas e a domesticação de animais supõe séculos de observação ativa e metódica, hipóteses ousadas e controladas, para serem rejeitadas ou comprovadas por meio de experiências incansavelmente repetidas. Por isso foi preciso, não duvidamos, uma atitude de espírito verdadeiramente científica, uma curiosidade assídua e sempre desperta, uma vontade de conhecer pelo prazer de conhecer, porque uma pequena fração apenas das observações e das experiências poderia dar resultados práticos e imediatamente utilizáveis. As diferenças entre o saber científico e o saber selvagem ou popular se situam não ao nível dos resultados, mas sim quanto à estratégia para chegar ao conhecimento, o saber popular muito perto da intuição sensível e o outro mais afastado.
E com isso toda a criatividade desenvolvida por raizeiros, parteiras, mateiros, pajés, pais-de-santo, rezadores, curadores de cobra, ao longo de uma vivência pessoal acumulada através dos anos, sem nenhum apoio externo institucional, agora está sendo valorizada e expropriada com tenacidade pelos grandes laboratórios. Afinal de contas, uma tradição não expressa senão a longa e penosa experiência de um povo. Nasce da batalha travada para manter a sua integridade ou, para dizê-lo com mais simplicidade, da sua luta para sobreviver, buscando na Natureza um remédio para seus males.
Com certeza o aumento da longevidade ocidental e oriental se deve ao avanço da ciência e do conhecimento, mas não apenas dos medicamentos farmacêuticos, pois os recursos terapêuticos da medicina alopática tiveram um papel muito pequeno nos resultados obtidos. O conjunto dos atos médicos modernos é
impotente para reduzir a morbidade global. Na verdade, as moléstias infecciosas, tais como, tuberculose, disenteria, tifo que dominaram o nascimento da era industrial vinham gradativamente reduzindo sua incidência, depois da Segunda Guerra Mundial, antes do emprego dos antibióticos. Quando a etiologia dessas moléstias foi compreendida e lhes foi aplicada terapêutica específica, elas já tinham perdido muito de
sua atualidade. É possível que a explicação se deva em parte à queda natural de virulência dos microrganismos e à melhoria das condições de habitação e da disseminação de redes de esgoto e de água tratada, mas ela reside, sobretudo, e de maneira muito nítida, numa maior resistência individual, devida à melhoria da nutrição e conseqüentemente do fortalecimento do sistema imunológico humano.
Portanto o Dr. Dráuzio Varella se equivoca quando atribui a maior expectativa dos povos orientais aos avanços da medicina e dos antibióticos. As estatísticas mostram que os índices de morbidade dos povos orientais são bastante inferiores aos padrões ocidentais. A diferença fundamental reconhecida mundialmente está no regime alimentar e no estilo de vida e principalmente no consumo maior de proteínas de origem vegetal. Por outro lado, é necessário reconhecer os grandes avanços tecnológicos obtidos pela biomedicina no mundo inteiro. Porém sabemos todos, que as pesquisas e os investimentos são realizados por grandes empresas que monopolizam o mercado mundial e, como tem propósitos lucrativos, somente investem no tratamento de doenças que lhes permitam elevada lucratividade. Por isso as doenças mais comuns dos países do terceiro mundo recebem pouca atenção e pesquisas no sentido de produzir novos medicamentos eficazes para combatê-las. Na verdade os medicamentos utilizados no tratamento de doenças degenerativas, como o câncer, o diabetes, as doenças cardio-vasculares, e os equipamentos eletrônicos de monitoramento de pacientes terminais são o grande foco da indústria farmacêutica e médica. E o raciocínio de seus
dirigentes chega a ser bastante simplório, tal como a declaração de um financista da indústria farmacêutica, numa entrevista ao Herald Tribune
(01/03/2003): "O primeiro desastre é se você mata pessoas. O segundo desastre é se as cura. As boas drogas de verdade são aquelas que você pode usar por longo e longo tempo." Sem comentários.
Com relação à avaliação da eficácia dos medicamentos fitoterápicos promovida pelo quadro "É Bom pra Quê?" do Fantástico, é realmente lamentável que um médico como Dráuzio Varella não saiba que em epidemiologia é necessário analisar uma grande quantidade de resultados para se chegar a uma conclusão.
Inclusive, sabemos todos, que uma clínica não pode ser avaliada pelo número absoluto de óbitos. Deve-se comparar os resultados com o número médio de óbitos mensal para saber se alguma anormalidade está ocorrendo. Apenas quando o número de óbitos está muito acima da média, as autoridades médicas
acionam o alarme e começam a investigar os motivos que extrapolaram à média esperada.
Portanto trata-se de desonestidade intelectual condenar o uso da babosa no tratamento do câncer utilizando um caso negativo isolado. Medicina não é matemática. Para obter uma avaliação válida do uso da babosa no tratamento de câncer, o médico/repórter Dráuzio Varella deveria buscar os resultados médios obtidos nos diferentes postos de saúde que a utilizam ou até mesmo na extensa bibliografia existente não somente no Brasil, mas no mundo inteiro. Se fosse necessário avaliar os resultados do tratamento de uma doença por um
medicamento sintético teríamos, no campo da ciência, de agir desta maneira. Porque no caso da fitoterapia é diferente. Dois pesos e duas medidas. Com relação à necessidade de pesquisas com as plantas medicinais a Universidade Brasileira desenvolve, há vários anos, padrões de avaliação científica das plantas medicinais. Desde a realização do 1o Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil em 1967, quando foram apresentados 22 trabalhos científicos até o XVII o Simpósio em Cuiabá em 2002, que recebeu 870 trabalhos científicos,
houve um incremento de 3800 % (10). Talvez ainda seja muito pouco, para um país com as dimensões do Brasil. Mas estamos buscando um caminho, com dificuldades, é claro. Portanto são inúmeros opesquisadores no Brasil habilitados para elaborar projetos e pesquisas sobre plantas medicinais.
Portanto nós não necessitamos da ajuda do Dr. Drauzio e muito menos do Fantástico para fazer esse trabalho de avaliação. E, além disso, o Dr. Dráuzio é um simples médico/repórter sem experiência e habilitação para fazer esse tipo de trabalho, inclusive sem título de mestrado. Na verdade sua formação de médico não lhe permite isso. A pesquisa nesta área é fundamentalmente multidisciplinar e o Dr. Dráuzio teria com certeza um espaço para atuar na equipe, se tivesse alguma especialização na área, e se examinarmos seu currículo Lattes, verificamos uma escassa experiência de pesquisas com plantas medicinais. Sua alegação de que pesquisa há 15 anos na Amazônia, não lhe garante direito algum para decidir o que deve ser feito. E porque estas pesquisas não são publicadas? Por isso as posições do Dr. Dráuzio são ridículas. Qualquer pesquisador da área reconhece a necessidade de várias etapas de pesquisa para validar a ação medicinal de uma planta. Mas quem vai decidir sobre a metodologia adequada para sua validação não pode ser o Dr. Dráuzio e muito menos o Fantástico. Trata-se de uma inversão de valores e de interesses escusos.
A enorme quantidade de críticas surgidas após a entrevista do Dr. Dráuzio à revista Época de 13/08/2010 explicitam a indignação de pacientes e profissionais da área de pesquisa de plantas medicinais no Brasil. Como a motivação pela pesquisa de plantas medicinais e sua defesa é muito grande devemos reconhecer que todos objetivam encontrar uma alternativa válida para cuidar de nossa saúde. E diga-se a verdade, não somente com plantas medicinais, mas também buscando técnicas terapêuticas milenares, como a acupuntura, o shiatsu, a medicina tradicional chinesa, a medicina ayurvédica, a auto-hemoterapia, a iridologia, a homeopatia, a antroposofia, o psicodrama, o naturismo, a aromaterapia, a musicoterapia, a meditação
transcendental, a yoga, a biodança e inúmeras outras terapias. E essa busca não ocorre por acaso, não é mesmo?
Trata-se apenas da busca desesperada de uma nova filosofia médica que compreenda o ser humano de maneira integral. As pessoas não suportam mais serem fragmentadas e segmentadas tal como as inúmeras peças de um quebra-cabeça. Segundo a Organização Mundial da Saúde a saúde é um estado de
completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças. Eu complementaria acrescentando ao texto o bem estar cultural e espiritual. E a biomedicina alopática ou convencional ao invés de atender a estas necessidades fundamentais do ser humano fragmenta ainda mais, criando novas especialidades médicas apenas para atender às necessidades do médico e nunca as do paciente e, com isso, a cada dia existem mais médicos que sabem muito sobre muito poucas coisas e que acabam por perder de vista o todo, o homem enfermo. Poder-se-ia chamar isso de fragmentação da responsabilidade frente ao paciente. Com isso estabelecem um campo cirúrgico no corpo do paciente e esquecem todo o resto. O paciente é apenas um objeto que carrega uma enfermidade.
Quando alguém adoece, seu sistema imunológico está em baixa, com pouca resistência aos micróbios ou germes invasores de seu corpo que se aproveitam da fragilidade para se reproduzir e com isso gerando os sintomas da doença.
Portanto a doença depende do que Pasteur definia, pouco antes de falecer, como o "terreno" favorável ou não ao desenvolvimento das colônias microbianas.
Portanto a partir desta noção, aceita pelos que defendem as medicinas integrais, o paciente necessita urgentemente nesse momento de buscar a restauração do equilíbrio de todo o organismo e não apenas da supressão de sintomas incômodos, aparentemente o mais afetado pela enfermidade. E é por isso que não basta suprimir sintomas, combater as dores ou a febre com analgésicos, levantar o paciente da cama, ou no jargão economicista, restaurar apenas a força de trabalho, característica fundamental da terapêutica alopática. ´
É necessário buscar terapêuticas que ajudem a recuperar o sistema imunológico. E as medicinas integrais caminham neste sentido e, com certeza, será a medicina do futuro, que cada vez fica mais próximo. Quem viver, verá.
*Prof. Douglas Carrara*
Antropólogo, Professor, Pesquisador de medicina popular e fitoterapia no Brasil
http://www.bchicomendes.com/
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"Não há porque envergonhar-se de tomar do povo o que pode ser útil à arte de curar." Hipócrates (460-380 a.C.)
Há muito tempo a Antropologia se recusa a utilizar categorias inadequadas para estudar e compreender o pensamento popular à respeito da saúde e da medicina. Os folcloristas no passado se referiam à medicina popular como superstições, crendices, práticas consideradas abomináveis por médicos ou pessoas de formação acadêmica. Esta rejeição pejorativa do pensamento popular ocorre sem nenhuma análise de sua função social, já que as práticas da medicina popular necessitam melhores observações e não podemos
destacá-las pura e simplesmente sem estudar o seu contexto cultural, sem participar da vida, da interação com aqueles que nos deram os informes, geralmente extraídos e exibidos em função de sua estranheza ou seu exotismo.
Muitas práticas consideradas crendices no passado, atualmente são plenamente explicáveis cientificamente. O uso da laranja mofada ou do queijo embolorado, por exemplo, para tratar feridas tem sido uma prática muito mais antiga do que a descoberta da penicilina por Fleming em 1932. Atualmente sabemos que a laranja abandonada no fundo do quintal, quando apodrece é atacada por um fungo do mesmo gênero (*) do bolor utilizado por Fleming para produzir o primeiro antibiótico. E o raizeiro raspa a casca da laranja onde
estava o bolor e passa externamente nas feridas crônicas. Em pouco tempo a inflamação cede e começa o processo de recuperação do paciente. Da mesma forma, em Cesárea, antiga cidade fundada pelos romanos, os armênios tratavam as feridas atônicas, cobrindo-as com queijo mofado, também produzido por um bolor semelhante ao bolor que deu origem à penicilina.
A vacinação anti-variólica, descoberta por Jenner em 1798, responsável pela erradicação da varíola em todo o mundo, uma doença extremamente virulenta e mortal, somente foi possível graças aos próprios camponeses na Inglaterra que, pelo menos, a partir de 1675, se vacinavam, inoculando em si mesmos as
secreções do gado atingido pela varíola bovina. Isto porque eles sabiam que a cow-pox (varíola bovina) era benigna e não matava como a varíola humana. Inclusive o próprio Jenner, médico que, ao atender uma camponesa, e suspeitar de que estivesse com varíola humana, obteve como resposta, e com extrema segurança, o seguinte: " Não posso ter varíola, porque já tive cow-pox." Esta foi a informação que Jenner necessitava para descobrir o princípio da vacina e iniciar o combate a esta terrível doença de maneira
rigorosamente científica. Graças à uma crendice de origem popular, Dr. Dráuzio Varella!
Mas não somente os camponeses ingleses conheciam esta técnica. A inoculação de varíola a fim de provocar uma forma atenuada da mesma era conhecida secularmente na China. A crosta de uma pústula era pulverizada e introduzida no nariz ou insuflada por meio de um tubo de bambu até que se formasse uma
erupção local. Os armênios também se vacinavam muitos séculos antes de Jenner. O padre Lucas Indjidjian, em seu livro "Darap atum" (História dos Séculos), publicado em 1827, descreve as minúcias do método nos seguintes termos: "Os armênios praticavam, há muito tempo, a vacinação contra a varíola, de modo empírico. Consistia seu método em recolher as crostas das pústulas de varíola na fase de descamação e conservá-las nos resíduos de passas de uvas. No momento oportuno, administravam-se essas passas às
pessoas que se pretendia preservar da varíola. Mais tarde, os armênios puseram em prática o método de inoculação por incisão ou fricção, procurando levar o agente portador da varíola por baixo da pele do indivíduo são. Este método profilático foi introduzido em Constantinopla por emigrantes armênios no ano de 1718. Lady Montague, esposa do embaixador inglês junto ao sultão, experimentou sua utilidade em seu próprio filho". (2)
Assim os exemplos são inumeráveis de supostas crendices populares que, com o desenvolvimento da ciência, e a superação dos preconceitos por parte dos cientistas, acabam sendo esclarecidas e enaltecendo a grandeza do pensamento médico popular. O próprio Rousseau afirmava que "sábios tem menos preconceitos do que os ignorantes, porém ficam mais presos aos que possuem."
Por isso é muito difícil convencer um médico preconceituoso e limitado como Dráuzio Varella. O paradigma cartesiano está tão profundamente arraigado e internalizado em seu pensamento que o torna obcecado pelas suas convicções pseudo-científicas. Sabemos hoje que inúmeras plantas medicinais tiveram suaspropriedades medicinais descobertas em ambiente não científico. A planta chinesa ma huang (**) que contém efedrina (alcalóide utilizado como agente cardiovascular) foi empregada empiricamente pelos médicos nativos, hoje em dia, chamados de médicos de pés-descalços, durante mais de 5.000 anos! O receituário chinês menciona que a planta é útil como antipirética, sudorífica, estimulante circulatório e sedativo da tosse. E eu pergunto, isto também era uma crendice, Dr. Dráuzio Varella?
Na Inglaterra, as folhas da planta dedaleira (***) era utilizada sob a forma de infusão para o tratamento da hidropisia (ascite) provocada pela insuficiência cardíaca. Esta prática popular foi recolhida pelo médico inglês Withering em 1771, que documentou toda esta experiência em livro publicado na época. Entretanto somente em 1910 a ação da digitalina (hoje digoxina), glicóside contido na planta, sobre o músculo cardíaco foi explicada de forma científica e até hoje vem sendo aplicada com grande aceitação pela medicina científica e até mesmo pelo médico Dráuzio Varella.
O isolamento da vitamina C e a definitiva explicação das causas do escorbuto são atribuídas a Szent-Gyorgi e King em 1932. Entretanto, o tratamento do escorbuto com cítricos era conhecido desde 1498, quando os marinheiros de Colombo foram acometidos de escorbuto, os homens quase moribundos, pediram para serem deixados numa ilha. Quando meses depois, Colombo retornou à ilha, encontrou seus homens vivos e saudáveis. Durante o período tinham se alimentado de frutos tropicais existentes na ilha e por isso passou a ser chamada de "Curaçao". Em 1593, Mathiolus publicou, na Europa, uma receita em que preconiza o emprego dos frutos da rosa silvestre (****) contra as hemorragias dentárias, assegurando que o pó dentifrício de rosa silvestre fortalece as gengivas. Hoje sabemos que o fruto da rosa silvestre possui altos teores de vitamina C (900 mg). Portanto uma crendice fitoterápica perfeitamente esclarecida.
Um fitoquímico brasileiro, Walter Mors, inclusive, reconheceu que na verdade só podemos admirar a experiência milenar de povos primitivos que, muito antes do surgimento da ciência moderna, descobriram, por exemplo, todas as plantas portadoras de cafeína: o chá na Ásia, o café e a noz-de-cola na África, o guaraná e o mate na América. E o efeito estimulante da cafeína nem é tão flagrante que possa ser reconhecido num simples mascar de folhas ou sementes.
Segundo Muszynski, atualmente conhecemos 12.000 espécies de plantas medicinais que são usadas por diferentes povos em todo o mundo. Convém acrescentar que essas espécies são as selecionadas por diversos povos durante milhares de anos. A ciência moderna não descobriu nenhuma planta nova medicinal ou comestível, mas somente estuda e introduz as já conhecidas popularmente.
Apesar de tudo, o menosprezo pelo saber popular permanece. Para a ciência cartesiana, o único saber válido que existe é apenas o pensamento científico e com isso os demais saberes são na verdade não-ciência, e se um raizeiro descobre alguma propriedade medicinal em uma planta com que convive há anos,
este conhecimento faz parte da biodiversidade na qual está inserido, portanto passível de expropriação por quem possua direitos sobre a área. Tal como no período dos grandes descobrimentos, os direitos são concedidos muito antes da conquista efetiva através da ocupação do território.
Entretanto a história da ciência tem mostrado que as grandes descobertas científicas ocorrem fora do espaço teórico-científico ou universitário. No século XIX, todos os historiadores da química reconheceram o furor experimental dos alquimistas e acabaram rendendo homenagem a alguns descobrimentos positivos, tais como o ácido sulfúrico e o oxigênio, ainda que para eles não fosse uma descoberta. René Dubos, inclusive, talvez o mais importantes biólogo e cientista do século XX, afirma que as principais invenções que deram impulso surpreendente à ciência foi promovida por mecânicos, curiosos, bricoleurs, inventores, etc.
No livro "O Pensamento Selvagem", Lévi-Strauss reconhece a legitimidade e a grandeza do saber indígena e popular. Segundo ele, o pensamento selvagem não é uma estréia, um começo, um esboço, parte de um todo não realizado; na verdade forma um sistema bem articulado; independente, neste ponto, desse outro sistema que constituirá a ciência (cartesiana). Cada uma dessas técnicas, muitas delas oriundas do período neolítico, a cerâmica, a tecelagem, agricultura, o tratamento de doenças com plantas e a domesticação de animais supõe séculos de observação ativa e metódica, hipóteses ousadas e controladas, para serem rejeitadas ou comprovadas por meio de experiências incansavelmente repetidas. Por isso foi preciso, não duvidamos, uma atitude de espírito verdadeiramente científica, uma curiosidade assídua e sempre desperta, uma vontade de conhecer pelo prazer de conhecer, porque uma pequena fração apenas das observações e das experiências poderia dar resultados práticos e imediatamente utilizáveis. As diferenças entre o saber científico e o saber selvagem ou popular se situam não ao nível dos resultados, mas sim quanto à estratégia para chegar ao conhecimento, o saber popular muito perto da intuição sensível e o outro mais afastado.
E com isso toda a criatividade desenvolvida por raizeiros, parteiras, mateiros, pajés, pais-de-santo, rezadores, curadores de cobra, ao longo de uma vivência pessoal acumulada através dos anos, sem nenhum apoio externo institucional, agora está sendo valorizada e expropriada com tenacidade pelos grandes laboratórios. Afinal de contas, uma tradição não expressa senão a longa e penosa experiência de um povo. Nasce da batalha travada para manter a sua integridade ou, para dizê-lo com mais simplicidade, da sua luta para sobreviver, buscando na Natureza um remédio para seus males.
Com certeza o aumento da longevidade ocidental e oriental se deve ao avanço da ciência e do conhecimento, mas não apenas dos medicamentos farmacêuticos, pois os recursos terapêuticos da medicina alopática tiveram um papel muito pequeno nos resultados obtidos. O conjunto dos atos médicos modernos é
impotente para reduzir a morbidade global. Na verdade, as moléstias infecciosas, tais como, tuberculose, disenteria, tifo que dominaram o nascimento da era industrial vinham gradativamente reduzindo sua incidência, depois da Segunda Guerra Mundial, antes do emprego dos antibióticos. Quando a etiologia dessas moléstias foi compreendida e lhes foi aplicada terapêutica específica, elas já tinham perdido muito de
sua atualidade. É possível que a explicação se deva em parte à queda natural de virulência dos microrganismos e à melhoria das condições de habitação e da disseminação de redes de esgoto e de água tratada, mas ela reside, sobretudo, e de maneira muito nítida, numa maior resistência individual, devida à melhoria da nutrição e conseqüentemente do fortalecimento do sistema imunológico humano.
Portanto o Dr. Dráuzio Varella se equivoca quando atribui a maior expectativa dos povos orientais aos avanços da medicina e dos antibióticos. As estatísticas mostram que os índices de morbidade dos povos orientais são bastante inferiores aos padrões ocidentais. A diferença fundamental reconhecida mundialmente está no regime alimentar e no estilo de vida e principalmente no consumo maior de proteínas de origem vegetal. Por outro lado, é necessário reconhecer os grandes avanços tecnológicos obtidos pela biomedicina no mundo inteiro. Porém sabemos todos, que as pesquisas e os investimentos são realizados por grandes empresas que monopolizam o mercado mundial e, como tem propósitos lucrativos, somente investem no tratamento de doenças que lhes permitam elevada lucratividade. Por isso as doenças mais comuns dos países do terceiro mundo recebem pouca atenção e pesquisas no sentido de produzir novos medicamentos eficazes para combatê-las. Na verdade os medicamentos utilizados no tratamento de doenças degenerativas, como o câncer, o diabetes, as doenças cardio-vasculares, e os equipamentos eletrônicos de monitoramento de pacientes terminais são o grande foco da indústria farmacêutica e médica. E o raciocínio de seus
dirigentes chega a ser bastante simplório, tal como a declaração de um financista da indústria farmacêutica, numa entrevista ao Herald Tribune
(01/03/2003): "O primeiro desastre é se você mata pessoas. O segundo desastre é se as cura. As boas drogas de verdade são aquelas que você pode usar por longo e longo tempo." Sem comentários.
Com relação à avaliação da eficácia dos medicamentos fitoterápicos promovida pelo quadro "É Bom pra Quê?" do Fantástico, é realmente lamentável que um médico como Dráuzio Varella não saiba que em epidemiologia é necessário analisar uma grande quantidade de resultados para se chegar a uma conclusão.
Inclusive, sabemos todos, que uma clínica não pode ser avaliada pelo número absoluto de óbitos. Deve-se comparar os resultados com o número médio de óbitos mensal para saber se alguma anormalidade está ocorrendo. Apenas quando o número de óbitos está muito acima da média, as autoridades médicas
acionam o alarme e começam a investigar os motivos que extrapolaram à média esperada.
Portanto trata-se de desonestidade intelectual condenar o uso da babosa no tratamento do câncer utilizando um caso negativo isolado. Medicina não é matemática. Para obter uma avaliação válida do uso da babosa no tratamento de câncer, o médico/repórter Dráuzio Varella deveria buscar os resultados médios obtidos nos diferentes postos de saúde que a utilizam ou até mesmo na extensa bibliografia existente não somente no Brasil, mas no mundo inteiro. Se fosse necessário avaliar os resultados do tratamento de uma doença por um
medicamento sintético teríamos, no campo da ciência, de agir desta maneira. Porque no caso da fitoterapia é diferente. Dois pesos e duas medidas. Com relação à necessidade de pesquisas com as plantas medicinais a Universidade Brasileira desenvolve, há vários anos, padrões de avaliação científica das plantas medicinais. Desde a realização do 1o Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil em 1967, quando foram apresentados 22 trabalhos científicos até o XVII o Simpósio em Cuiabá em 2002, que recebeu 870 trabalhos científicos,
houve um incremento de 3800 % (10). Talvez ainda seja muito pouco, para um país com as dimensões do Brasil. Mas estamos buscando um caminho, com dificuldades, é claro. Portanto são inúmeros opesquisadores no Brasil habilitados para elaborar projetos e pesquisas sobre plantas medicinais.
Portanto nós não necessitamos da ajuda do Dr. Drauzio e muito menos do Fantástico para fazer esse trabalho de avaliação. E, além disso, o Dr. Dráuzio é um simples médico/repórter sem experiência e habilitação para fazer esse tipo de trabalho, inclusive sem título de mestrado. Na verdade sua formação de médico não lhe permite isso. A pesquisa nesta área é fundamentalmente multidisciplinar e o Dr. Dráuzio teria com certeza um espaço para atuar na equipe, se tivesse alguma especialização na área, e se examinarmos seu currículo Lattes, verificamos uma escassa experiência de pesquisas com plantas medicinais. Sua alegação de que pesquisa há 15 anos na Amazônia, não lhe garante direito algum para decidir o que deve ser feito. E porque estas pesquisas não são publicadas? Por isso as posições do Dr. Dráuzio são ridículas. Qualquer pesquisador da área reconhece a necessidade de várias etapas de pesquisa para validar a ação medicinal de uma planta. Mas quem vai decidir sobre a metodologia adequada para sua validação não pode ser o Dr. Dráuzio e muito menos o Fantástico. Trata-se de uma inversão de valores e de interesses escusos.
A enorme quantidade de críticas surgidas após a entrevista do Dr. Dráuzio à revista Época de 13/08/2010 explicitam a indignação de pacientes e profissionais da área de pesquisa de plantas medicinais no Brasil. Como a motivação pela pesquisa de plantas medicinais e sua defesa é muito grande devemos reconhecer que todos objetivam encontrar uma alternativa válida para cuidar de nossa saúde. E diga-se a verdade, não somente com plantas medicinais, mas também buscando técnicas terapêuticas milenares, como a acupuntura, o shiatsu, a medicina tradicional chinesa, a medicina ayurvédica, a auto-hemoterapia, a iridologia, a homeopatia, a antroposofia, o psicodrama, o naturismo, a aromaterapia, a musicoterapia, a meditação
transcendental, a yoga, a biodança e inúmeras outras terapias. E essa busca não ocorre por acaso, não é mesmo?
Trata-se apenas da busca desesperada de uma nova filosofia médica que compreenda o ser humano de maneira integral. As pessoas não suportam mais serem fragmentadas e segmentadas tal como as inúmeras peças de um quebra-cabeça. Segundo a Organização Mundial da Saúde a saúde é um estado de
completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doenças. Eu complementaria acrescentando ao texto o bem estar cultural e espiritual. E a biomedicina alopática ou convencional ao invés de atender a estas necessidades fundamentais do ser humano fragmenta ainda mais, criando novas especialidades médicas apenas para atender às necessidades do médico e nunca as do paciente e, com isso, a cada dia existem mais médicos que sabem muito sobre muito poucas coisas e que acabam por perder de vista o todo, o homem enfermo. Poder-se-ia chamar isso de fragmentação da responsabilidade frente ao paciente. Com isso estabelecem um campo cirúrgico no corpo do paciente e esquecem todo o resto. O paciente é apenas um objeto que carrega uma enfermidade.
Quando alguém adoece, seu sistema imunológico está em baixa, com pouca resistência aos micróbios ou germes invasores de seu corpo que se aproveitam da fragilidade para se reproduzir e com isso gerando os sintomas da doença.
Portanto a doença depende do que Pasteur definia, pouco antes de falecer, como o "terreno" favorável ou não ao desenvolvimento das colônias microbianas.
Portanto a partir desta noção, aceita pelos que defendem as medicinas integrais, o paciente necessita urgentemente nesse momento de buscar a restauração do equilíbrio de todo o organismo e não apenas da supressão de sintomas incômodos, aparentemente o mais afetado pela enfermidade. E é por isso que não basta suprimir sintomas, combater as dores ou a febre com analgésicos, levantar o paciente da cama, ou no jargão economicista, restaurar apenas a força de trabalho, característica fundamental da terapêutica alopática. ´
É necessário buscar terapêuticas que ajudem a recuperar o sistema imunológico. E as medicinas integrais caminham neste sentido e, com certeza, será a medicina do futuro, que cada vez fica mais próximo. Quem viver, verá.
*Prof. Douglas Carrara*
Antropólogo, Professor, Pesquisador de medicina popular e fitoterapia no Brasil
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terça-feira, 21 de setembro de 2010
ALGUNS REMÉDIOS DE ERVAS COMUNS
Camomila
Usa-se: Flores da planta são utilizadas para fazer chás , extratos líquidos , cápsulas ou comprimidos para insônia , ansiedade e problemas gastrointestinais como dores de estômago , gases e diarréia. Pode ser aplicado à pele como um creme ou uma pomada para várias condições de pele , ou usado como uma enxaguadura de boca para tratar úlceras na boca resultante do tratamento do câncer.
Efeitos colaterais: As reações alérgicas podem incluir erupções cutâneas, inchaço da garganta , falta de ar e choque anafilático , reação alérgica com risco de vida .
Aloe vera
Usa-se: Clear gel das folhas é usado frequentemente como uma pomada tópica para queimaduras e outras condições. A parte verde da folha que envolve o gel pode ser usado para produzir um suco ou uma substância seca tomado por via oral para diabetes , asma, epilepsia e osteoartrite.
A ciência : Tópica gel aloe pode ajudar a curar queimaduras e escoriações. Outros usos não tenham sido muito pesquisado.
Efeitos colaterais: Gel pode inibir a cicatrização de feridas profundas . cólicas abdominais e diarréia foram relatados com o uso oral , o que pode diminuir a absorção de muitos fármacos.
Alho
Indicações: Colesterol elevado , doenças cardíacas, pressão alta e alguns tipos de cancro, incluindo o estômago e cólon. dentes de alho podem ser comidos crus ou cozidos. Eles podem ser secos ou em pó e utilizado em comprimidos e cápsulas . Os dentes pode ser usado para fazer óleos e extratos líquidos .
A ciência : O alho pode retardar o desenvolvimento da aterosclerose (endurecimento das artérias) , tornando a pressão arterial um pouco menor.
Efeitos colaterais: Respiração e odor do corpo , azia , dores de estômago e reações alérgicas (todos os mais comuns com alho cru ).
Canela
Usos: Oralmente , canela cássia é usada para diabetes tipo 2 , gás, espasmos musculares e gastrointestinais , prevenção de náuseas e vómitos, diarreia , infecções, resfriado comum e perda de apetite. enurese Também é usado para a impotência , doenças reumáticas , hérnia de testículo e sintomas da menopausa.
A ciência : Canela é uma boa fonte de manganês, uma componente importante de uma dieta saudável. Ele contém uma substância que ativa os receptores de insulina antes inibida .
Efeitos colaterais: Suas propriedades anticoagulante pode causar hemorragias profusas em conjunto com outros diluidores do sangue , se um paciente está ferido,ou menstruação excessiva .
Erva de São João
Indicações: Nos distúrbios do sono , na dor dos nervos e nos transtornos mentais como depressão e ansiedade. Também pode ser usado como um sedativo, para tratar a malária e como um bálsamo para feridas , queimaduras e picadas de insetos
A ciência : Estudos têm demonstrado graus variados de sucesso no tratamento da depressão .
Efeitos colaterais: Pode causar aumento da sensibilidade à luz solar. Outros efeitos colaterais podem incluir ansiedade , boca seca , tontura, sintomas gastrointestinais , fadiga , dor de cabeça ou disfunção sexual.
Fonte: Centro Nacional de Alternativa e Complementar Medicina, http://nccam.nih.gov/
Mente e cérebro, ilusões e mistérios - Eduardo Giannetti
Por Sonia Montaño
A noite do Fronteiras do Pensamento, de 13 de setembro, abordou as relações entre mente e cérebro. Com o título A Ilusão da Alma, o economista e cientista social brasileiro Eduardo Giannetti falou sobre as teorias fisicalistas do cérebro que consideram uma ilusão qualquer ato de comando nosso sobre o próprio cérebro.
Giannetti disse que o convite para a conferência do Fronteiras chegou bem na hora em que estava finalizando seu livro.
O livro A ilusão da alma é um relato em primeira pessoa de uma conversão filosófica.
Um professor de Letras padece de uma série de problemas como ausências e alucinações, e descobre que tem um tumor. É operado, mas três coisas mudam em sua vida: fica parcialmente surdo, obtém a aposentadoria por invalidez e é tomado por uma verdadeira obsessão pelo estudo do cérebro e da mente. Ele faz grandes descobertas, com um desfecho inesperado, à medida que avança, encontra-se com um credo aterrador, o fisicalismo. A nossa consciência, senso de identidade, sensação de liberdade, e tudo o que povoa nossa atividade mental seria produto dos bilhões de células do cérebro e nada mais. O livro fala da frágil consciência que temos de nós mesmos. “A ideia é mostrar que podemos estar radicalmente
enganados. Podemos estar tão equivocados no modo como pensamos sobre nós mesmos quanto o homem pré-científico se encontrava equivocado no que pensava sobre o trovão e o relâmpago”, disse o autor.
Giannetti relatou que as relações entre mente e cérebro são abordadas há 2.500 ano e que todos temos um conhecimento intuitivo sobre essas relações. “Que tipo de ser é o bicho homem? Para onde caminha o entendimento estritamente científico da condição humana?”, perguntou-se o economista.
Mundo físico e mundo mental
Todo ser humano tem um lado filósofo, traz consigo um conjunto de noções sobre o que significa ser dotado de consciência e vontade própria, além da relação que ele e a humanidade em geral guardam com o universo em que vivem. Quando a criança percebe que há coisas que dependem de sua vontade e outras não, está aprendendo a andar com suas próprias pernas em seu mundo mental.
Há um entendimento compartilhado sobre as relações mente-cérebro que parte da compreensão de dois tipos de acontecimentos distintos. De um lado, os acontecimentos que pertencem ao mundo físico externo e que percebemos pelos sentidos, e, de outro, os que acontecem na nossa mente e temos acesso pela atenção
consciente, introspecção e vida interior.
Outro entendimento compartilhado sobre nós mesmos é que os mundos físico e mental não são totalmente separados, se autoinfluenciam. “Se eu tomar um analgésico, a dor de dente desaparece. É o físico sobre o mental. Se eu fumo um cigarro, fico mais animado, mas quando penso no mal da nicotina jogo o cigarro fora.
É o mental sobre o físico”, exemplificou Giannetti.
Eduardo Giannetti encerrou a conferência com um silogismo fisicalista:
As leis e regularidades que regem o mundo são independentes de minhas vontades.
A minha vontade é fruto das mesmas leis que regem o mundo.
A minha vontade é independente de minha vontade.
Leia mais...http://www.unimedpoa.com.br/mkt/fronteiras1409/resumo_fronteiras1409.pdf
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