A DIVINA PASTORA Novela Rio-Grandense - JOSÉ ANTONIO DO VALE CALDRE E FIÃO
Publicado por José Antonio do Vale Caldre e Fião, em 1847, no Rio de Janeiro, A Divina Pastora é o segundo romance na história da literatura brasileira. Dele, porém, não se conhecia um só exemplar, pois todos os da primeira edição desapareceram misteriosamente, com o que a obra se transformou num dos maiores enigmas da nossa história cultural. Depois de 145 anos de inúteis esforços de bibliófilos e pesquisadores, finalmente, em 1992, o livreiro Adão Fernando Monquelat, de Pelotas, localizou em Montevidéu, Uruguai, o único exemplar até hoje conhecido de A Divina Pastora, que foi reeditado pela RBS, em 1992.
Ao publicar a Divina Pastora, em 1847, o escritor Caldre e Fião mantinha acesa a chama do seu amor pelo Rio Grande do Sul. Aí ele delineia o contexto das aventuras narradas: entre a vila de São Leopoldo e a cidade de Porto Alegre, passando por Viamão para cruzar o passo da Cavalhada no rumo de Belém Velho. O leitor interessado em reviver a Porto Alegrer de 1845 aí encontraraá matéria vasta, dos toponímios desaparecidos ao registro dos hábitos sociais.
Pouco antes, em 1844, Joaquim Manoel de Macedo, nas páginas de A Moreninha, tentara tìmidamente esboçar a paisagem carioca, que só alcançara contornos definitivos, bem mais tarde na ficção de Manoel Antonio de Almeida e no romance urbano de Machado de Assis. Caldre e fião é o primeiro de nossos autores, que faz as suas criaturas pisarem num território desde logo inconfundível: aquele labirinto de vielas mal traçadas que constitui a Porto Alegre provinciana ou, o cenário rural dos arredores. Configura, pois , a marca legítima do romance brasileiro, empenhado na identificação e nomeação do espaço circundante, instrumento indispensável ao conhacimento da nossa realidade de país novo. Compreende-se assim por que os românticos saíram em busca das paisagens e seus vultos típicos para desenhar a identidade nacional. Seus territórios preferenciais localizaram-se nas selvas habitadas pelo índio primitivo, no garimpo, nas grandes propriedades agrárias, no sertão (motivo obsessivo de Alencar em diante) e, por fim, na sociedade incipientemente burguesa do Rio de Janeiro de Dom Pedro II. Caldre e Fião antecedeu-os, apresentando, já em 1847, a sua “novela rio-grandense”. A intriga está centralizada em Édélia ( a divina pastora), donzela belíssima e virtuosa, apaixonada por seu primo Almênio, bravo guerreiro farroupilha que, irá casar com Clarinda, filha de imigrantes alemães no Vale dos Sinos. Atormentando a vida de todos, aparece Francisco, protótipo do vilão. É preciso entender que Caldre e Fião pertence a uma tradição que em seus dias, já lançara raízes profundas na literatura ocidental – a tradição do “folhetim”. Foi assim que o romance moderno, gênero burguês por excelência, se estabeleceu através das páginas dos jornais europeus. Tratava-se de narrar uma sequência de aventuras em sucessão episódica, cuja leitura podia ser feita capítulo a capítulo, independentemente do resultado final. Via de regra, cada episódio correspondia a um “ rodapé “ do jornal em que o romance era publicado.
O que importa é registrar o ingresso do “gaúcho” na ficção brasileira, em 1847 pela mão de Caldre e Fião. O bravo Almênio, protagonista de A Divina Pastora surge como o antecedente de Blau Nunes, Cambarás e Amarais. Almênio é um guerrilheiro farroupilha, que coloca sua juventude e bravura indômita a serviço da Revolução de 1835, separatista e republicana. Na trama do romance, esta questão desempenha um papel decisivo, pois é exatamente a adesão às forças insurrectas que provoca a repulsa de sua prima Edélia – a “divina pastora”. Este é o recurso manejado pelo narrador para inserir sua posição política na malha dos eventos narrados. Sob a sua perspectiva conservadora, a revolução se apresenta como sinônimo de desordem. O horror de Edélia à causa revolucionária vem a ser no fundo o horror do próprio Caldre e Fião. Finalmente convencido da ilegalidade da República de Piratini, Almênio troca de lado, passando ao exército imperial e provocando uma reversão na atitude de Edélia. Mas então já era tarde demais; ele prometeu casamento à bela Clarinda. Embora constituindo a crônica do amor contrariado, Caldre e Fião projeta a narrativa num contexto histórico real: a “Grande Revolução, que deflagrada em 1835, só concluirá na década seguinte em 1845,apenas dois anos antes da publicação da “Divina Pastora”! O romance de Caldre e Fião é essencialmente romance histórico, porque trata de fatos candentes sobre os quais pouquíssimos ousavam falar, as brasas ainda acesas sob uma camada de cinza fina. Seja qual for o nosso grau de adesão às suas idéias políticas, o fundamental é que elas aí estão expostas com meridiana clareza, buscando interpretar honestamente a sociedade e a conjuntura que a mergulhara numa grave crise. ( De “ Um texto Resgatado” do Prof. Flavio Loureiro Chaves titular de Literatura Brasileira da UFRGS – que acompanha a edição da RBS em 1992)
BIBLIOGRAFIA DE CALDRE E FIÃO
*Elementos de farmácia homeopática para uso da Escolas de Medicina Homeopática do Rio de Janeiro e da curiosa mocidade brasileira e portuguesa que quiser estudar este ramo da ciência médica. Rio de Janeiro, Tipografia Brasiliense de F.M. Ferreira, 1846.
*Enciclopédia dos conhecimentos úteis. Rio de Janeiro, s. Ed.,1846.
*A Divina Pastora ( Novela rio-grandense) Rio de Janeiro, Tipografia Brasiliense de F. M. Ferreira, 1847. 2 tomos
*Elogio dramático ao faustosíssimo batizado do Príncipe Imperial Dom Pedro, augustíssimo herdeiro do sólio do Brasil; oferecido ao Senhor D. Pedro II. Rio de Janeiro, Tipografia M. da Silva Lima, 1848.
*Ramalhete poético dos excelentes versos recitados na Bahia, por ocasião de ali se achar e representar o insigne artista brasileiro João Caetano dos Santos. Rio de Janeiro, Tipografia Fluminense de Rego & Cia., 1848.
*O Corsário. (Romance rio-grandense). Rio de Janeiro, Tipografia Filantrópica, 1851. (Este romance foi publicado em folhetins no jornal O Americano, do Rio de Janeiro, apartir de 1849.
*Considerações sobre os três pontos dados pela faculdade de Medicina do Rio de Janeiro : 1 - Quais as condições para que a água seja potável? Meio de reconhecer o ferro nas águas ferruginosas quais os estados em que ele se acha 2) Versão e evolução espontânea. 3)Heterogenia. Tese. Rio de Janeiro, 1851.
TRAÇOS BIOGRÁFICOS DE CALDRE E FIÂO
José Antonio do Vale nasceu em Porto Alegre, a 15 de outubro de 1821. Bem mais tarde, em fins de 1849, ele acrescentaria ao nome de família os apelidos Caldre e Fião, com raízes na toponímia lusitana
Órfão de pai antes de completar dois anos de idade – é quase tudo o que se sabe a respeito de sua infância. Em 1837, José Antonio do Vale, então aos 16 anos de idade, requereu e foi admitido como “auxiliar da botica da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre” Sua permanência aí não chegou a um ano, despedido devido à chegada de novo boticário do Rio de Janeiro. Pouco se sabe de sua biografia no período compreendido entre 1837, quando era aprendiz de boticário em Porto Alegre, e 1846, ano em que as atividades que vinha desenvolvendo, no Rio de Janeiro, já o haviam projetado nos meios onde se praticava, difundia e ensinava o sistema terapêutico estabelecido por Hahnemann. Foi quando publicou “ Elementos de Farmácia Homeopática para uso da Escola de Medicina Homeopática do Rio de Janeiro e da curiosa mocidade brasileira e portuguesa que quiser estudar este ramo da ciência médica”. Ao lançar esse primeiro trabalho, editado no Rio de Janeiro, Tipografia Brasiliense, Rua do Sabão, 117. O jovem autor já era detentor dos seguintes títulos: Membro do Instituto Homeopático do Brasil, fundador e membro efetivo do Liceu Médico-Homeopático, lente substituto de Farmácia da mesma Escola, redator-chefe da Enciclopédia dos Conhecimentos Utéis. Submetido ao Dr. Bento Mure, homeopata francês então residindo no Rio de Janeiro e apontado como propagador e apóstolo da doutrina de Hahnemann, o trabalho foi aprovado, sendo lhe dedicado pelo autor. Não se dispõe de elementos comprobatórios de que tenha cursado a Escola Hahnemaniana de Medicina, fundada em 1844, apenas dois anos antes da publicação dos “Elementos de Farmácia Homeopática”.
Dedicou-se intensamente ao abolicionismo, fundando e dirigindo o jornal “O Filantropo” entre 1849 e 185, no Rio de Janeiro. Foi membro da Sociedade contra o Tráfico de Africanos e Promotora da Colonização e Civilização dos Indígenas, da qual foi um dos fundadores em 1850. Foi um dos fundadores da Sociedade Partenon Literário e deputado pelo partido Liberal Progressista em 1855.
Embora entregue à prática da medicina, desde sua chegada ao Rio Grande do Sul, ele ainda não se fizera notar no exercício da clínica. A situação começaria a mudar, por ocasião do novo surto epidêmico de cólera que se abateria sobre Porto Alegre de março a dezembro de 1867. Foi aí que a figura do Dr Caldre e Fião tomou vulto. Esta página de Aquiles Porto Alegre serve como ilustração ao assunto: “A noite, na embocadura das ruas e praças, enormes fogueiras, alimentadas pelo alcatrão, davam ao povoado uma aparência sinistra, como se um medonho incêndio lavrasse, ao mesmo tempo em diversos poontoa. E ainda para mais vivamente impressionar o espírito já abatido da população, ouvia-se de quando em quando, o ranger da grilheta dos encarcerados que cruzavam as ruas, conduzindo em padiolas as vítimas da peste. E esse som áspero e penetrante, quebrando o silêncio das horas mortas da noite, ressoava tristemente como dobres de finados. E, à luz apavorante das labaredas das fogueiras, que ardiam nas ruas desertas e silenciosas, via-se passar, apressado, ao lado de um ou outro. O Dr. Caldre e Fião, para ir socorrer os atacados da epidemia, sobre cujas cabeças ele espalmava as asas do seu carinho e da sua caridade infinita.”
Publicado por José Antonio do Vale Caldre e Fião, em 1847, no Rio de Janeiro, A Divina Pastora é o segundo romance na história da literatura brasileira. Dele, porém, não se conhecia um só exemplar, pois todos os da primeira edição desapareceram misteriosamente, com o que a obra se transformou num dos maiores enigmas da nossa história cultural. Depois de 145 anos de inúteis esforços de bibliófilos e pesquisadores, finalmente, em 1992, o livreiro Adão Fernando Monquelat, de Pelotas, localizou em Montevidéu, Uruguai, o único exemplar até hoje conhecido de A Divina Pastora, que foi reeditado pela RBS, em 1992.
Ao publicar a Divina Pastora, em 1847, o escritor Caldre e Fião mantinha acesa a chama do seu amor pelo Rio Grande do Sul. Aí ele delineia o contexto das aventuras narradas: entre a vila de São Leopoldo e a cidade de Porto Alegre, passando por Viamão para cruzar o passo da Cavalhada no rumo de Belém Velho. O leitor interessado em reviver a Porto Alegrer de 1845 aí encontraraá matéria vasta, dos toponímios desaparecidos ao registro dos hábitos sociais.
Pouco antes, em 1844, Joaquim Manoel de Macedo, nas páginas de A Moreninha, tentara tìmidamente esboçar a paisagem carioca, que só alcançara contornos definitivos, bem mais tarde na ficção de Manoel Antonio de Almeida e no romance urbano de Machado de Assis. Caldre e fião é o primeiro de nossos autores, que faz as suas criaturas pisarem num território desde logo inconfundível: aquele labirinto de vielas mal traçadas que constitui a Porto Alegre provinciana ou, o cenário rural dos arredores. Configura, pois , a marca legítima do romance brasileiro, empenhado na identificação e nomeação do espaço circundante, instrumento indispensável ao conhacimento da nossa realidade de país novo. Compreende-se assim por que os românticos saíram em busca das paisagens e seus vultos típicos para desenhar a identidade nacional. Seus territórios preferenciais localizaram-se nas selvas habitadas pelo índio primitivo, no garimpo, nas grandes propriedades agrárias, no sertão (motivo obsessivo de Alencar em diante) e, por fim, na sociedade incipientemente burguesa do Rio de Janeiro de Dom Pedro II. Caldre e Fião antecedeu-os, apresentando, já em 1847, a sua “novela rio-grandense”. A intriga está centralizada em Édélia ( a divina pastora), donzela belíssima e virtuosa, apaixonada por seu primo Almênio, bravo guerreiro farroupilha que, irá casar com Clarinda, filha de imigrantes alemães no Vale dos Sinos. Atormentando a vida de todos, aparece Francisco, protótipo do vilão. É preciso entender que Caldre e Fião pertence a uma tradição que em seus dias, já lançara raízes profundas na literatura ocidental – a tradição do “folhetim”. Foi assim que o romance moderno, gênero burguês por excelência, se estabeleceu através das páginas dos jornais europeus. Tratava-se de narrar uma sequência de aventuras em sucessão episódica, cuja leitura podia ser feita capítulo a capítulo, independentemente do resultado final. Via de regra, cada episódio correspondia a um “ rodapé “ do jornal em que o romance era publicado.
O que importa é registrar o ingresso do “gaúcho” na ficção brasileira, em 1847 pela mão de Caldre e Fião. O bravo Almênio, protagonista de A Divina Pastora surge como o antecedente de Blau Nunes, Cambarás e Amarais. Almênio é um guerrilheiro farroupilha, que coloca sua juventude e bravura indômita a serviço da Revolução de 1835, separatista e republicana. Na trama do romance, esta questão desempenha um papel decisivo, pois é exatamente a adesão às forças insurrectas que provoca a repulsa de sua prima Edélia – a “divina pastora”. Este é o recurso manejado pelo narrador para inserir sua posição política na malha dos eventos narrados. Sob a sua perspectiva conservadora, a revolução se apresenta como sinônimo de desordem. O horror de Edélia à causa revolucionária vem a ser no fundo o horror do próprio Caldre e Fião. Finalmente convencido da ilegalidade da República de Piratini, Almênio troca de lado, passando ao exército imperial e provocando uma reversão na atitude de Edélia. Mas então já era tarde demais; ele prometeu casamento à bela Clarinda. Embora constituindo a crônica do amor contrariado, Caldre e Fião projeta a narrativa num contexto histórico real: a “Grande Revolução, que deflagrada em 1835, só concluirá na década seguinte em 1845,apenas dois anos antes da publicação da “Divina Pastora”! O romance de Caldre e Fião é essencialmente romance histórico, porque trata de fatos candentes sobre os quais pouquíssimos ousavam falar, as brasas ainda acesas sob uma camada de cinza fina. Seja qual for o nosso grau de adesão às suas idéias políticas, o fundamental é que elas aí estão expostas com meridiana clareza, buscando interpretar honestamente a sociedade e a conjuntura que a mergulhara numa grave crise. ( De “ Um texto Resgatado” do Prof. Flavio Loureiro Chaves titular de Literatura Brasileira da UFRGS – que acompanha a edição da RBS em 1992)
BIBLIOGRAFIA DE CALDRE E FIÃO
*Elementos de farmácia homeopática para uso da Escolas de Medicina Homeopática do Rio de Janeiro e da curiosa mocidade brasileira e portuguesa que quiser estudar este ramo da ciência médica. Rio de Janeiro, Tipografia Brasiliense de F.M. Ferreira, 1846.
*Enciclopédia dos conhecimentos úteis. Rio de Janeiro, s. Ed.,1846.
*A Divina Pastora ( Novela rio-grandense) Rio de Janeiro, Tipografia Brasiliense de F. M. Ferreira, 1847. 2 tomos
*Elogio dramático ao faustosíssimo batizado do Príncipe Imperial Dom Pedro, augustíssimo herdeiro do sólio do Brasil; oferecido ao Senhor D. Pedro II. Rio de Janeiro, Tipografia M. da Silva Lima, 1848.
*Ramalhete poético dos excelentes versos recitados na Bahia, por ocasião de ali se achar e representar o insigne artista brasileiro João Caetano dos Santos. Rio de Janeiro, Tipografia Fluminense de Rego & Cia., 1848.
*O Corsário. (Romance rio-grandense). Rio de Janeiro, Tipografia Filantrópica, 1851. (Este romance foi publicado em folhetins no jornal O Americano, do Rio de Janeiro, apartir de 1849.
*Considerações sobre os três pontos dados pela faculdade de Medicina do Rio de Janeiro : 1 - Quais as condições para que a água seja potável? Meio de reconhecer o ferro nas águas ferruginosas quais os estados em que ele se acha 2) Versão e evolução espontânea. 3)Heterogenia. Tese. Rio de Janeiro, 1851.
TRAÇOS BIOGRÁFICOS DE CALDRE E FIÂO
José Antonio do Vale nasceu em Porto Alegre, a 15 de outubro de 1821. Bem mais tarde, em fins de 1849, ele acrescentaria ao nome de família os apelidos Caldre e Fião, com raízes na toponímia lusitana
Órfão de pai antes de completar dois anos de idade – é quase tudo o que se sabe a respeito de sua infância. Em 1837, José Antonio do Vale, então aos 16 anos de idade, requereu e foi admitido como “auxiliar da botica da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre” Sua permanência aí não chegou a um ano, despedido devido à chegada de novo boticário do Rio de Janeiro. Pouco se sabe de sua biografia no período compreendido entre 1837, quando era aprendiz de boticário em Porto Alegre, e 1846, ano em que as atividades que vinha desenvolvendo, no Rio de Janeiro, já o haviam projetado nos meios onde se praticava, difundia e ensinava o sistema terapêutico estabelecido por Hahnemann. Foi quando publicou “ Elementos de Farmácia Homeopática para uso da Escola de Medicina Homeopática do Rio de Janeiro e da curiosa mocidade brasileira e portuguesa que quiser estudar este ramo da ciência médica”. Ao lançar esse primeiro trabalho, editado no Rio de Janeiro, Tipografia Brasiliense, Rua do Sabão, 117. O jovem autor já era detentor dos seguintes títulos: Membro do Instituto Homeopático do Brasil, fundador e membro efetivo do Liceu Médico-Homeopático, lente substituto de Farmácia da mesma Escola, redator-chefe da Enciclopédia dos Conhecimentos Utéis. Submetido ao Dr. Bento Mure, homeopata francês então residindo no Rio de Janeiro e apontado como propagador e apóstolo da doutrina de Hahnemann, o trabalho foi aprovado, sendo lhe dedicado pelo autor. Não se dispõe de elementos comprobatórios de que tenha cursado a Escola Hahnemaniana de Medicina, fundada em 1844, apenas dois anos antes da publicação dos “Elementos de Farmácia Homeopática”.
Dedicou-se intensamente ao abolicionismo, fundando e dirigindo o jornal “O Filantropo” entre 1849 e 185, no Rio de Janeiro. Foi membro da Sociedade contra o Tráfico de Africanos e Promotora da Colonização e Civilização dos Indígenas, da qual foi um dos fundadores em 1850. Foi um dos fundadores da Sociedade Partenon Literário e deputado pelo partido Liberal Progressista em 1855.
Embora entregue à prática da medicina, desde sua chegada ao Rio Grande do Sul, ele ainda não se fizera notar no exercício da clínica. A situação começaria a mudar, por ocasião do novo surto epidêmico de cólera que se abateria sobre Porto Alegre de março a dezembro de 1867. Foi aí que a figura do Dr Caldre e Fião tomou vulto. Esta página de Aquiles Porto Alegre serve como ilustração ao assunto: “A noite, na embocadura das ruas e praças, enormes fogueiras, alimentadas pelo alcatrão, davam ao povoado uma aparência sinistra, como se um medonho incêndio lavrasse, ao mesmo tempo em diversos poontoa. E ainda para mais vivamente impressionar o espírito já abatido da população, ouvia-se de quando em quando, o ranger da grilheta dos encarcerados que cruzavam as ruas, conduzindo em padiolas as vítimas da peste. E esse som áspero e penetrante, quebrando o silêncio das horas mortas da noite, ressoava tristemente como dobres de finados. E, à luz apavorante das labaredas das fogueiras, que ardiam nas ruas desertas e silenciosas, via-se passar, apressado, ao lado de um ou outro. O Dr. Caldre e Fião, para ir socorrer os atacados da epidemia, sobre cujas cabeças ele espalmava as asas do seu carinho e da sua caridade infinita.”
Existe imagem de Caldre Fião?
ResponderExcluirEstou atrás de uma imagem dele, na internet não existe. Talvez em alguma revista ou livro.Estou procurando...
ResponderExcluirJá tenho uma imagem do Caldre Fião no meu blog.
ResponderExcluirOlá, também já escrevi sobre esse livro, abordando outro enfoque.
ResponderExcluirSe tiveres interesse, o texto se chama " a boa literatura ruim"