sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A HOMEOPATIA NO BRASIL
Os primeiros resquícios do movimento homeopático no Brasil, haviam surgido na Bahia, em 1818 quando Antônio Ferreira Françadeu conhecimento da doutrina de Hahnemann à Faculdade Médico Cirurgica desse estado. Em 1836 era apresentada à Faculdade de Medicina por Frederico Emílio John, estudante da Universidade de Leipzig, que se transferira para o Rio de Janeiro, a primeira tese sôbre a homeopatia - "Exposição da doutrina homeopática".
Em 1840, chegava ao Rio de Janeiro Bento Mure, para ser o verdadeiro iniciador da Ciência de Hahnemann em nossa terra. Tem a seu lado, para enfrentar os inimigos das doses infinitesimais, João Vicente Martins. Mais tarde, o Dr. José da Gama e Castro, médico português, redator do "Jornal do Comércio", publicou uma série de artigos de propaganda da homeopatia, lembrando ao povo brasileiro, a presença do Dr. Mure.
Data de 1842, a criação do Instituto Homeopático do Brasil, por iniciativa de Bento Mure e Vicente José Lisboa, outro divulgador da homeopatia. Fundada por esse Instituto de acordo com a lei de 3 de outubro de 1844, aparecia a primeira escola para o ensino oficial da homeopatia. Pouco tempo durou essa escola, devido à discórdia entre seus dirigentes. Teve também duração efêmera a Academia Médico Homeopática do Brasil que a substituiu.
Mais tarde, Saturnino Soares de Meireles, notabilizou-se como adepto da doutrina de Hahnemann em uma série de artigos publicados nas colunas do "Jornal do Comércio", sob o título "Paralelo entre a Homeopatia ea Alopatia". A ele devemos a fundação do Instituto Hahnemanniano Fluminense, que em 1879 passou a denominar-seInstituto Hahnemanniano do Brasil.

Referencia: CARDOSO, Leontina - Licinio Cardoso seu Pensamento, sua Obra sua Vida Ed. Souza RJ 1952.


HOMEOPATIA NO BRASIL
Em 1841, Benoit-Jules Mure (que passou a ser conhecido como Bento Mure) fundou a Escola Homeopática do Rio de Janeiro. Em 1842, surge o Instituto Homeopático de Saí (Santa Catarina) e abre-se a primeira farmácia homeopática do Rio de Janeiro (fundada por Bento Mure e João Vicente Martins).
Três anos após, é criada a Escola Homeopática do Brasil, sob a direção de João Vicente Martins, a qual, em 1847, é substituída pela Academia Médico-Homeopática do Brasil.
Bento Mure recebeu severas críticas no meio médico, por tentar difundir idéias totalmente desconhecidas no país. Desgostoso com a situação, optou por sair do Brasil sete anos após sua chegada, deixando, entretanto, a semente lançada (fez muitos discípulos que continuaram seu trabalho).
Entre os grandes nomes brasileiros que se tornaram adeptos da homeopatia, durante sua implantação no Brasil, podemos citar11,13: João Vicente Martins (1810-1854); Domingos de Azevedo Duque-Estrada (1812-1900); Sabino Olegário Ludgero Pinho (1820-1869); Maximiano Marques de Carvalho (1820-1896); Antônio do Rego (1820-1896); Saturnino Soares de Meireles (1828-1909); Manuel Antônio Marques de Faria (1835-1893); Alexandre José de Melo Morais (1843-1919); Joaquim Duarte Murtinho (1848-1911); Cássio Barbosa de Resende (1879-1971).
Em 1858, o Hospital da Ordem Terceira da Penitência abriu uma enfermaria homeopática, seguida pelo Hospital da Beneficência Portuguesa (1859), Hospital da Ordem Terceira do Carmo (1873), Santa Casa de Misericórdia (1883), Hospital Central do Exército (1902) e Hospital Central da Marinha (1909).
No início do século (1914), Licínio Cardoso fundou no Rio de Janeiro a Faculdade Hahnemanniana e, a ela anexo, o Hospital Homeopático do Rio de Janeiro (atualmente Escola de Medicina e Cirurgia da Uni-Rio, essencialmente alopática).
Em 1966, durante o governo de Castello Branco, foi decretada obrigatória a inclusão da Farmacotécnica Homeopática em todas as faculdades de Farmácia do Brasil. Em 1977, foi publicada a primeira edição oficial da Farmacopéia Homeopática Brasileira. Em 1980, o Conselho Federal de Medicina reconheceu oficialmente a homeopatia como especialidade médica, deixando, assim, de ser uma "terapia alternativa".

faculdade de medicina homeopática do Rio Grande do sul

A Faculdade de Medicina Homeopática do Rio Grande do Sul, foi criada em Porto Alegre,em janeiro de 1914,com base na Lei Orgânica de Ensino Rivadávia Corrêa, de 1911, que concedia autonomia didática e administrativa aos estabelecimentos de ensino. Profissionais de diversas áreas estiveram presentes na sua inauguração, no dia 2 de março daquele ano, como membros da Escola de Engenharia, da Escola de Direito e da Faculdade de Medicina de Porto Alegre, além do representante do presidente do estado, Borges de Medeiros. Sediada na rua Riachuelo, 301, a Faculdade ministraria os cursos de medicina e farmácia, sendo professores: Egídio Itaqui, Diógenes Monteiro Tourinho, Adolfo Stern,Alfredo Ludwig,João Landell de Moura, Sabino Menna Barreto, Jorge Murtinho, Ignacio Capistrano Cardoso, Edison Fagundes Barcelos, Euclydes Goulart Bueno, Padre Roberto Landell de Moura entre outros. Vários deles eram médicos formados pelas faculdades de medicina oficiais, não seguindo uma orientação homeopata. Seus principais fundadores foram Ignácio Capistrano Cardoso, Sabino Menna Barreto, Manoel de Faria Corrêa e Alfredo Ludwig, sendo que nem todos eram homeopatas.
Contando com o apoio do governo do estado, foi eleito diretor-presidente da instituição, Euclydes Goulart Bueno.
No entanto, no mesmo ano da fundação da instituição a partir de um desentendimento que levou Ignácio Cardoso a pedir sua exoneração, o corpo docente se dividiu, provocando a cisão da instituição em duas: Faculdade de Ciencias Médicas e Escola Médico-Cirúrgica de Porto Alegre, nenhuma das duas de orientação homeopática.
(foto de Glaci Loureiro: sede da Escola Médico Cirúrgica de Porto Alegre no ano de 1939 na rua General Portinho 426. Fonte revista Máscara acervo do MUHM)

HOMEOPATIA - OS PRIMEIROS HOMEOPATAS DO RIO GRANDE DO SUL

O primeiro homeopata a atuar no Rio Grande do Sul em 1847, foi o Dr. Dionísio Silveiro, formado em Portugal, que "humanizou a medicina da época, utilizando-se do "moderno princípio do estímulo às resistências individuais. Posteriormente, Caldre Fião, Bernardino Bitencourt, Barcelos Filho, Policarpo Araponga, Padre João Pedro Gay. Com dedicação de sacerdotes, confirmaram no seio da população o elevado conceito que conquistara o Dr. Dionísio Silveiro, notadamente na terrivel epidemia de cólera que ameaçou dizimar a população desta capital. Além destes, também praticaram com destaque a homeopatia em solo gaúcho, Gonçalves Gomide, Teodoro Henrique Schnapp, Van der Laan, Teófilo Varela, Artur Candall Jr., Agostinho Campos, Lourenço Cabelo, Jerônimo Teixeira Braga, Pelopidas Araújo. O primeiro Laboratório Homeopático de Porto Alegre foi criado por Luiz Afonso de Azambuja que tinha uma farmácia alopata e também abriu consultório. No interior, a deficiencia de profissionais levou a improvisação de médicos não formados: "homens inteligentes, estudiosos e sinceros, praticaram, exercendo a caridade, e terminaram conseguindo alvarás de licença, para o exercício da medicina". Caso de Inácio Guasque (Jaguarão, 1890) e José Alvares de Souza Soares ( Laboratório Homeopático de Pelotas). Além destes também eram "licenciados": Ferdinando Martino,José Luiz Guasque, Manoel Cebalos, G. Burgen, Antonio José Oliveira, Manoel Amaro Jr. e Inácio Capistrano Cardoso, este irmão do Dr. Licinio Cardoso.

*Barreto, Sabino Menna. "Resumo histórico da homeopatia no Rio Grande do Sul",pp. 15-29


HOMEOPATIA - IGNÁCIO CAPISTRANO CARDOSO


Ignácio Capistrano Cardoso, médico licenciado de orientação homeopata, destacou-se a partir de 1900 como um dos principais propagadores da homeopatia no Estado do Rio Grande do Sul. Naquela época, incentivou junto aos poderes públicos do Estado e da União, a criação de enfermarias homeopáticas nos hospitais militares. Entre 1903 e 1912, foi redator, diretor e proprietário da Revista de Medicina Homeopática, publicada em Porto Alegre.
Nest
e período, em 1904, abriu a
 Pharmácia Homeopática Cardoso. Foi ainda membro de sociedades homeopáticas de Barcelona, México e Filadélfia, de 1908 a 1910. Ignácio era irmão de Licínio Athanásio Cardoso (veja biográfia em outro tópico) e Saturnino Nicolau Cardoso que também se dedicaram à homeopatia.
SOUZA SOARES, José Álvares de (Visconde de Souza Soares).
Vairão, Portugal, 24 fev. 1846 – Pelotas, RS. Diplomado em Medicina. Médico e industrialista, Pelotas. Diretor do Almanaque da Família, Pelotas, desde sua fundação, em 1891.
Souza Soares foi o fundador da Farmácia Homeopática Rio-Grandense, a primeira farmácia da cidade de Pelotas, no ano de 1874, que ficou conhecida por fabricar o Peitoral de Cambará, a partir da planta brasileira de mesmo nome, e que foi sucesso no tratamento das bronquites.
Ele inaugurou, em 1883, o parque Pelotense, mais tarde chamado Parque Souza Soares, onde funcionou mais tarde o Laboratório.
BIBLIOGRAFIA: Auxílio Homeopático ou o Médico em Casa, Pelotas (5 edições, a última de Pelotas, 1905). Presente de Ouro, informações úteis, conselhos e descrições. O Novo Médico. Novo Guia Homeopático.


FAGUNDES, Édison Barcellos.
Bragança, SP, 24 maio 1893. F.: Albino Fagundes e Corina Barcellos Fagundes. Est. no Ginásio Polotense, Pelotas, a partir de 1903. Médico homeopata por muitos anos em Pelotas. Médico chefe do Posto de Higiene do DES em Getúlio Vargas, RS, 1943. Membro da Soc. de Med. Hahnemaniana do RS.
BIBLIOGRAFIA: Homeopatia, tese de doutoramento, P. Alegre, 1914.Comprimidos, humorismo, Echenique e cia., Pelotas, 1925.

BITTENCOURT, José Bernardino da Cunha.
Porto Alegre, RS, 3 jan. 1827 – Porto Alegre, 25 nov. 1901. F.: Manoel da Cunha Bittencourt e Maria Bernardina dos Santos Bittencourt. Diplomado em Med. Homeopática pela Fac. de Med. do Rio de Janeiro em 1849. Revisor do Correio Mercantil, Rio de Janeiro, 1846. Médico do Hospital da Marinha, id. Deputado à Assembléia Provincial do RS, 1852-1867. Deputado à Assembléia Geral do Império, 1869-1872 e 1878. Médico da Beneficência Portuguesa, P. Alegre. Pertenceu ao Partido Conservador. Cavaleiro da Ordem da Rosa. Foi da Soc. do Teatrinho, P. Alegre, como amador teatral que era àquela época. Deve-se-lhe a criação da Escola Normal em P. Alegre.

BIBLIOGRAF
IA: Algumas Considerações sobre o Clima e suas Influências sobre os Operados, tese de doutoramento, Rio de Janeiro, Tip. do Arquivo Médico, 1849. Discursos Pronunciados na Assembléia Provincial nas Sessões de 6 e 27 dez. 1866, P. Alegre, 1867.

 IGNÁCIO GUASQUE - 

Filho do jornalista espanhol José Eduardo Cipriano Berlinguero Guasque e Maria de La Cabeza Josefa Juana Terron y Hidalgo de Guasque, nascido no Rio de Janeiro em 1835, casou com a bageense Anna Luiza Romeiro Barcellos Guasque, em 8/12/1864, na Catedral de São Sebastião, em Bagé. Morreu em Castro, no Paraná, em 5/02/1912.

Sua formação provavelmente, como atestam alguns documentos, foi na Escola de Homeopatia, no Rio de Janeiro. Clinicou em Jaguarão em 1890, mesmo ano que escreve e publica, em Pelotas, o livro " Medicina Homeopathica". Logo após se muda com a maioria dos familiares para o Paraná.

De 1906 a 1907 publicou artigos na Revista Homeopathica do Paraná ( foi citado na Tese de Doutorado da Prof. Renata Palandri ), mas não estava mais clinicando, era fazendeiro na época.
A Tese de doutorado da Dra.Renata Palandri Sigolo intitulada "Em busca da Sciencia Médica a medicina homeopática no início do século XX"pode ser acessada no site: 
http://dspace.c3sl.ufpr.br/dspace/bitstream/1884/8361/1/Renata[1][1].pdf

Referência: Informação enviada pelo médico nefrologista Gerson Luis Barreto de Oliveira, tataraneto de Ignácio Guasque e bisneto de seu filho José Luiz Guasque que foi homeopata em Bagé RS.


JOSE LUIZ GUASQUE
Filho mais velho do homeopata Ignácio Guasque e de sua esposa Anna Luiza, nasceu em 1/11/1865, em Bagé e casou com Aniceta Correa, em Cerro Chato, Depto. de Rivera - Uruguai, em 5/02/1890, na época era guarda-livros nesta localidade.

Em 1907 temos registro que era Médico Licenciado, só podia exercer esta função aqui no Rio Grande do Sul, esta licença era fornecida pelo Governo do Estado. Neste ano funda a Farmácia Homeopatica Humanitária, sabemos pelos registros que em 1910 ele seguia com a farmácia e era catalogado como médico hahnemanniano ( seguia os ensimamentos do médico alemão, Hannehmann ).
Sabemos que participou ativamente na Revolução de 30, junto com os irmãos, numa atividade pró-Getúlio. 
Teve 17 filhos com a esposa.
Faleceu em Bagé em 13 de fevereiro de 1937.

Referencia: Informação enviada pelo médico nefrologista Gerson Luis Barreto de Oliveira, tataraneto de Ignácio Guasque e bisneto de José Luiz Guasque.

O Cônego João Pedro Gay nasceu na cidade de Grenoble, na França em 20 de novembro de 1815.Terminou o curso de Ciências Eclesiásticas no Seminário de Gap e foi ordenado presbítero em julho de 1840, na diocese de Gap e depois foi nomeado Vigário.Obteve licença para vir ao Brasil, e no Rio de Janeiro, exerceu suas funções sacerdotais, o magistério particular e dedicou-se ao estudo da medicina no Instituto Homeopático do Brasil, que lhe conferiu a “faculdade de exercer livremente a medicina de Hahnemann no país.”Seguiu para o Rio Grande do Sul e a 24 de fevereiro de 1850 foi empossado em São Borja, como vigário.Aproveitando seus conhecimentos de medicina e visando benefícios para a população pobre de sua paróquia, solicitou e obteve permissão do governo provincial para a abertura “ de um laboratório homeopático”.No decênio de 1850 conviveu em São Borja, com o sábio botânico francês Aimé Bompland que aí há muito, havia fixado residência.Aimé Bompland era formado em medicina e na velha cidade missioneira abrira uma farmácia e clinicava.Em 1862 apresentou o Cônego Gay ao Instituto Histórico Geográfico Brasileiro a “História da República Jesuítica do Paraguai”, que lhe valeu a eleição para sócio dessa benemérita instituição cultural.Foi testemunha da invasão paraguaia de 1865. É, pois, de alto valor o seu depoimento relato fiel e minucioso dos acontecimentos da dita invasão. Permaneceu em São Borja, durante 24 anos, indo depois para Uruguaiana, onde veio a falecer em 10 de maio de 1891.
Deixou o Cônego Gay os seguintes estudos, além de grande número de artigos em jornais e mais de duzentos sermões:


* Itinerário resumido da viagem que acaba de fazer embarcado no rio Uruguai, desde a foz que nele faz o rio Passo Fundo até o Passo de São Borja, o sr. Joaquim Antônio de Morais Dutra, navegando 150 léguas no mesmo Uruguai, navegação em metade desconhecida até agora. Publicado na Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, tomo 21.

* Tratado de Teologia Moral.Os originais foram entregues em 1862, ao bispo do Rio de Janeiro, Conde de Irajá.
* História da República Jesuítica do Paraguai, desde o descobrimento do Rio da Prata até nossos dias, ano de 1861. Essa obra foi entregue pelo autor, em 1862 ao IHGB e publicada também na Revista do IHGB .tomo 26. Foi feita uma seperata.Em 1942 foi feita por ordem do Dr. Getúlio Vargas a Segunda edição portuguesa pelo historiador Dr. Rodolfo Garcia diretor da Biblioteca Nacional.

*Invasão Paraguaia na Fronteira Brasileira do Uruguai, desde seu princípio até o fim (de 10 de junho a 18 de setembro de 1865).Publicada primeiramente no Jornal do Comercio do Rio de Janeiro e depois pela Tipografia Imperial Constitucional, de J. Villeneuve & Cia. , 1867 Rio de Janeiro.

*Nouvelle Grammaire de la Langue Guarany et Tupy. Manuscrito original de 155págs.
*Manuel de conversation en français, portugais, espagnol et guarany. Manuscrito Original, 200 págs.
*Notice sur les derniers annés de la vie du naturaliste Mr. Aimé Bompland, sur as mort, et son heritage scientifique. Rio de Janeiro, 1861.
* Compêndio de História Natural. (Cit. De Sacramento Blacke.)

* Petit Vocabulaire de la langue des Bougres Couronnés ( Manuscrito original no IHGB)Além dos trabalhos citados, tinha o vigário de São Borja outros em conclusão que o vandalismo dos invasores inutilizou juntamente com a sua preciosa biblioteca, uma coleção de pedras e produtos esquisitos da natureza, alguns dos quais estiveram na Exposição Nacional do Rio de Janeiro em 1861 e um pequeno herbário de plantas das Missões que o vigário vinha formando desde 1862.


Referência:GAY, Conego João Pedro, Invasão Paraguaia 1980 Instituto Estadual do Livro UCS.
Biblioteca do Estado do Rio Grande do Sul.

LICINIO ATANAZIO CARDOZO -- “ O MATEMATICO “

Na pequena vila de Lavras , Rio Grande do Sul hoje municipio de Lavras do Sul em 02 de maio de 1852, nasceu Licinio Atanazio Cardozo, no mesmo dia em que nasceu Santo Atanazio em Alexandria.
Filho de Vicente Xavier Cardoso, homeopata prático que ficando viúvo, foi servir na Guerra do Paraguai, vivia , Licínio Cardoso com os outros cinco irmãos, na casa de uma tia.De origem humilde, exerceu vários ofícios tendo inclusive ajudado a construir a Igreja de Lavras. De inteligencia privilegiada, seu sonho era ampliar os seus horizontes.
Convidado por um naturalista que fora conhecer a região de Lavras atraido pelas riqueza auríferas das quais muito se falava, e após ter o consentimento de seu avô que reconhecia sua inteligencia e sabia de seu sonho de buscar instrução em um centro maior, partiu,viajando dias e dias a cavalo rumo ao Rio de Janeiro.Lá chegando, foi abandonado pelo naturalista seu protetor, mas, graças às cartas que lhe dera o Barão do Cerro Formoso para pessoas influentes do Império, consegue a matricula almejada na Escola Militar. Sem vocação para a carreira das armas, sabia que encontraria no programa da Escola Militar o que exigiam seus pendores para as matemáticas.Em 1874, conclui o curso preparatório da Escola Militar; Em 1878, termina o curso do Estado Maior, promovido à segundo Tenente e classificado no primeiro batalhão de artilharia; Em 1879, conclui o curso de engenharia militar;Em fevereiro de 1885 foi promovido a Capitão e em 1886 nomeado para coordenar o ensino do curso preparatório.
Em 1876 criou-se a Sociedade Positivista do Brasil, sendo Benjamim Constant, um de seus sócios fundadores.
Na Escola Militar, encontrou Benjamin, o melhor de seus discipulos, em Licinio Cardoso.
Voltad
o inteiramente para as Ciencias positivas, Licinio Cardoso estudou, assimilou, meditou e reverenciou Augusto Comte. Em Ciencias matemáticas, aproximou-se Licinio Cardoso de Leibnitz, o descobridor do cálculo infinitesimal...Da obra de Augusto Comte, Licinio Cardoso aceitava”o que lhe parecia conforme com a doutrina que assimilara através do conjunto da obra do mestre...”Essa independencia de espirito em relação ao filósofo, manifestou-se em um de seus primeiros trabalhos “A Classificação de Ciencias”. Ocuparam-se em classificar as ciencias, Aristóteles, Bacon, Ampère, Descartes, Augusto Comte, Herbert Spencer e outros mais. Entre nós, apareceu a çlassificaçãode Licinio Cardoso, precedendo trabalhos no mesmo sentido, realizados sucessivamente por Nerval de Gouvea, Farias Brito, Liberato Bittencourt, Sylvio Romero Jonathas Serrano e Tristão de Athayde.

De Licinio Cardoso, a classificação data de 1879, publicada na revista da “ Sociedade Phenix Literária.”Fica assim constituida a escala hierárquica das ciencias fundamentais:
Matemática abstrata- Analise
Matemática concreta- Geometria
Mecanica
Fisica
Quimica
Biologia
Frenologia
Sociologia
Antroponomia ( conhecimento das leis particulares que presidem ao exercicio das funções do corpo humano)
Matemático, Licinio Cardoso considerou as dimensões do espaço : “ uma realização parcial de infinitas possibilidades”( Preito a Samuel Hahnemann p.35)
Trabalhos publicados como Matemático (Professor da Escola Militar e da Escola Politecnica)
“ Um caso da Igualdade dos Triangulos” revista da Academia da Escola Militar 1885
“Teoria Elementar do Máximo e do Mínimo”Revista Academica da Escola Militar 1885
“Teoria Elementar das Funções” 1885
“Teoria da rotação dos corpos” 1887
“A verdadeira estatica na mecanica”Revista da Escokla Politecnica do RJ 1897
“Equações diferenciais da mecanica” revista dos cursos da Escola Politecnica do RJ 1909
“Condição Geral da existencia da função de forças” revista da Sociedade Brasileira de Ciencias do RJ- 1920

( foto: Einstein na Escola Politécnica do RJ-1925)
“Relatividade Imaginária” – O Jornal – 16 maio 1925 (Artigo polêmico publicado após a visita que Einstein fez ao Brasil nesse ano de 1925. O artigo traz o seguinte comentário sobre o livro de Einstein “La théorie de la relativité restreinte et generalisée”. “A cada página, pode-se dizer,da obra, eu encontrava proposições análogas: umas confundindo o objetivo com o subjetivo, outras afirmando coisas de impossível realização, outras estabelecendo conceitos elementaríssimos e velhos como se fossem novos(...) Demonstrei que o professor Einstein,confundindo os pontos de vists abstrato e concreto, toma por objetivo o que é subjetivo e vice-versa e não distingue entre ciência abstrata e relações particulares das existencias concretas.”(in: Moreira e Videira,p.131)
O Médico Homeopata – Aos 43 anos de idade, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. “A concepção da Medicina” foi a sua tese de doutorado que foi aprovada com distinção. No dia 23 de janeiro de 1900, tornou-se doutor em medicina. O jornal Gazeta de Noticias publicou: “É o sexto matemático que se apresenta sustentando a medicina homeopata; o primeiro foi o Conselheiro Meirelles, o segundo o falecido Dr. Pedro Bandeira de Gouvea; o terceiro o Dr. Joaquim Murtinho; o quarto o Dr. Faria Junior; o quinto o Dr. Nerval de Gouvea e finalmente o sexto o Dr. Licinio Cardoso. Matemáticos que se fizeram médicos, atraídos pela ciencia das doses infinitesimais.” Pouco tempo depois, Saturnino Cardoso, oficial do exército, fazia-se também médico homeopata.” Com o espírito afeito aos métodos indutivo e dedutivo, tendem esses cientistas para a medicina que se baseia na observação, comparação e experimentação, para essa terapêutica que, em sua concepção unitária da moléstia, é complexa e abstrata.”
“Ninguém terá dúvidas-disse Licinio Cardoso num de seus trabalhos sobre a ciencia do filósofo de Meissen, em reconhecer as qualidades de permanencia que revestem os caracteres da medicina hahnemanianna, que é instituida sobre as leis naturais pertencentes a esse tipo no qual as fórmulas subjetivas traduzem a realidade absoluta. As leis de Kepler, de Galileu, de Huyghens, de Newton, que servem de base à mecanica e que são casos particulares das leis universais da persistencia, da coexistencia e da equivalência, sòmente por Augusto Comte formuladas, são as mesmas que edificam, no domínio biológico, os fundamentos da nossa terapêutica” (Jose Emidio Galhardo- Iniciação homeopática p.157)
Nestas citações, onde estão enunciadas as bases da terapeutica homeopata, é fácil reconhecer as razões da preferencia dos matemáticos pela medicina de Hahnemann, como prova irrefutável do rigor científico de suas leis.
Licinio Cardozo inicia sua clinica em 1900, período áureo da homeopatia, em uma farmácia no Largo do Machado antes de instalar-se no centro da cidade.Nessa época grassava a epidemia de febre amarela e muitos foram salvos pela homeopatia de Licinio Cardoso, fato que determinou a conversão de alguns clínicos à terapêutica de Hahnemann.
Ao ser inaugurada a Policlinica de Botafogo, foi convidado para chefe de uma clínica homeopatica. Mais tarde, foi nomeado chefe de clínica da Sexta enfermaria da Santa Casa de Misericórdia, em substituição a Saturnino de Meirelles.Foi presidente do Instituto Hahnemanniano, fundando a escola de Medicina e Cirurgia e o Hospital Hahnemanniano.
Tendo conhecido o sistema de curar do Dr. Rogers, médico homeopata de Chicago, com o qual manteve uma longa correspondência, achou vantagens no seu método: o tratamento dos doentes pelo próprio sangue dinamizado.Em 1918, Licinio Cardoso depois de fazer experiencias muitas vezes sobre o seu próprio organismo,fez seu, e com êxito esse sistema de tratamento.
“Dyniotherapia autonosica”( dynio= força termo de origem grega) foi publicado em Genebra na tradução francesa de Antoine Nebel Fils. O livro que apareceu na Suiça depois de sua primeira edição esgotada no Brasil, vem precedido de um capítulo onde o notável cientista Ignácio Azevedo do Amaral, expõe a evolução do pensamento matemático de Licínio Cardoso. Comentando seus trabalhos em Ciencias abstratas desde a “Theoria elementar das funções, publicada em 1885 até a “Dyniotherapia autonósica ” em 1923, procurou mostrá-las como “elementos de uma mesma cadeia, testemunhando a unidade filosófica de Licinio Cardoso” Ninguém melhor do que Ignácio Azevedo do Amaral , poderia dizer de Licinio Cardoso:
“O matemático”.

CARDOSO, Leontina Licínio, Gráfica Editora Souza, RJ 1952 Licínio Cardoso-seu pensamento, sua obra, sua vida, Biblioteca do Estado do Rio G