*Laila Nunes
A dengue, hoje, constitui um dos principais problemas de Saúde pública no mundo, especialmente nos países tropicais, onde as condições são mais favoráveis à proliferação do Aedes aegypti. A organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 50 a 100 milhões de pessoas se infectem anualmente, em mais de 100 países, de todos os continentes, exceto a Europa. Cerca de 550 mil doentes necessitam de hospitalização e 20 mil morrem em consequência da dengue.
O Aedes aegypti, mosquito transmissor da Dengue, encontrou no Brasil as condições socioambientais favoráveis à sua expansão. Os condicionantes da expansão da dengue nas Américas e no Brasil são similares e referem-se, em grande parte, ao modelo de crescimento econômico implementado na região, caracterizado pelo crescimento desordenado dos centros urbanos. O Brasil concentra mais de 80% da população na área urbana, com importantes lacunas no setor de infraestrutura, tais como dificuldades para garantir o abastecimento regular e contínuo de água, a coleta e o destino adequados dos resíduos sólidos. Outros fatores, como a acelerada expansão da indústria de materiais não biodegradáveis, além de condições climáticas favoráveis, agravadas pelo aquecimento global, conduzem a um cenário que impede, em curto prazo, a proposição de ações visando à erradicação do vetor transmissor.
No ano de 2008, o Estado do Rio de Janeiro viveu uma de suas piores epidemias de dengue, com mais de 250 mil casos confirmados da doença. Um crescimento de 315% em comparação a 2007, quando houve quase 67 mil casos. Mas o município de Macaé conseguiu um feito notável: nesse mesmo período, registrou uma queda de 60% nos casos de dengue. O segredo? Homeopatia.
Em 2007, Macaé aderiu a essa modalidade de tratamento e o resultado alcançado surpreendeu as autoridades. A escolha dos medicamentos foi baseada no conceito epidemiológico homeopático denominado gênio epidêmico, onde estudam-se os casos e elege-se o melhor medicamento. Os medicamentos utilizados em Macaé sejam em fórmulas ou separadamente foram Eupatorium, Phosphorus, Crotalus, Gefion e Natrum Muriaticum na prevenção e tratamento da dengue.
O Eupatorium é retirado de uma planta americana, o Crotalus horridus é do veneno de uma cobra cascavel americana, e o Phosphoros é o fósforo mineral. O Eupatorium é usado contra a dengue clássica, o Crotalus é contra a dengue hemorrágica, o Phosphoros é usado no controle da coagulação do sangue, o Gefion é usado para casos mais graves. O Natrum Muriaticum é o sal de cozinha, que em dose homeopática pode ser utilizado para combater os sintomas da dengue, principalmente quando há predominância de distúrbios gastrintestinais e desidratação.
Na primeira campanha Homeopatia contra a Dengue (abril e maio de 2007), foram distribuídas gratuitamente 156 mil doses do medicamento homeopático, sendo que a população estimada em Macaé é de 188 mil habitantes. Na segunda campanha (novembro e dezembro de 2007), outras 60 mil doses foram dadas à população. Na terceira campanha foram distribuídas 200 mil doses, de 29 de março a 25 de abril de 2008. E, na quarta campanha, foram 26 mil doses em novembro e dezembro de 2008. Em 2009, foram aplicadas 98.708 doses. “A maior vantagem é a grande aceitação e o baixo custo desse tratamento.
Vale ressaltar que, durante as campanhas, a Secretaria Municipal de Saúde de Macaé mantém e intensifica todas as outras medidas de controle do mosquito Aedes aegypti, vigilância epidemiológica e educação de profissionais de Saúde e da população. A aplicação do remédio homeopático é dirigida a toda a população, mas com recomendação especial para aqueles com histórico anterior na doença. A adesão é voluntária ou espontânea. A forma de utilização do medicamento é em dose única, para uso profilático, em três campanhas anuais ou de acordo com a epidemiologia da doença no município.
Há uma preocupação em orientar as pessoas sobre o que é a Homeopatia, a periodicidade de repetição das dosagens, os efeitos adversos, a legislação e tudo o que ampara o uso da Homeopatia como tratamento alternativo para a dengue. Com a grande aceitação e a mobilização de pessoas que procuram as unidades de Saúde, é intensificado o trabalho paralelo de educação em Saúde, com informações sobre a doença, o controle do mosquito, onde e quando procurar a unidade de Saúde para atendimento e acompanhamento, servindo como um mutirão contra a dengue.
O trabalho funciona como busca ativa, aumentando a conscientização e a sensibilização da população e dos profissionais de Saúde, com consequente aumento do número de notificações e maior número de bloqueios de possíveis focos de Aedes aegypti.
Com a previsão de migração de gravidade da doença para crianças, a Secretaria Municipal de Saúde em uma abordagem educativa para a prevenção da dengue em parceria com Secretaria Municipal de Educação no município de Macaé realizou o Concurso das Gotinhas Homeopáticas contra a Dengue nas Escolas com o objetivo de sensibilizar e fomentar a criatividade dos alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio da Rede Municipal de Ensino sobre o controle da dengue e a Campanha da Homeopatia contra epidemia de dengue. O concurso foi instituído para escolher os melhores desenhos, frases e paródias, tendo como tema central a dengue e as gotas homeopáticas contra epidemia de dengue, utilizadas no município desde 2007 e nas escolas desde 2008.
A Campanha das Gotinhas Homeopáticas contra a Dengue nas Escolas proporcionou palestras de orientação e prevenção à dengue em 60 escolas do município e a participação de 12.000 alunos do Ensino Fundamental e Ensino Médio regularmente matriculados nas Unidades Escolares da Rede Municipal de Ensino em 2009.
O concurso demonstrou a grande aceitação pela população escolar e comunidade em geral no uso de medicamento homeopático, quando se tem oportunidade de acesso ao mesmo. A frase vencedora foi da aluna Victória Carvalho Matsuda, do C. M. Profª Maria Isabel Damasceno Simão - Caixa d’água bem tampada, água parada não vai ter, tome a homeopatia, para a dengue não derrubar você!.
O desenho vencedor, abaixo, foi da aluna Melissa da Escola Municipal Amil Tanos.
*Laila Nunes é Coordenadora Geral de Saúde Coletiva da Secretaria Municipal de Saúde de Macaé.