Assentados aprendem a controlar formigas com homeopatia
Professor Francisco Câmara ensina preparo de homeopatia
Cleonildes Batista, 48 anos, moradora do assentamento Zumbi dos Palmares, não imaginava que fosse possível combater formigas com um produto feito de... formigas! Ela descobriu isso no Dia de Campo sobre uso de Homeopatia no Controle de Insetos, realizado pelo Itesp, em Iaras, no último dia 13 de abril, em parceria com a Unesp de Botucatu. Participaram do evento técnicos do Itesp e produtores rurais assentados das regiões de Sorocaba, Araras e Itapeva.
O professor Francisco Luiz Araújo Câmara, da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp, fez uma exposição sobre os usos da homeopatia na agricultura e ensinou, passo a passo, como se faz o nosódio, nome técnico do preparado homeopático. Em resumo, são macerados de 10 a 12 insetos numa solução de glicerina, álcool 70% e água (em partes iguais de 5 ml). No preparo, não pode ser utilizado nenhum utensílio ou recipiente de metal.
Essa mistura deve descansar por 48 horas em um armário de madeira, sem iluminação e distante de aparelhos elétricos. Depois disso, 3 gotas do medicamento são diluídas em 10 ml de álcool, em um vidro escuro, que passa por um processo chamado dinamização, em que a solução é agitada de uma forma especial, batendo-se com o vidro na palma da mão por cem vezes. As diluições e dinamizações ocorrem sucessivas vezes. No caso de Iaras, será usado o preparado C15, ou seja, com 15 dinamizações.
Segundo Francisco Câmara, após a 12a dinamização, não sobra nenhum resquício do material biológico usado. O que produz efeito na homeopatia seria a energia desse material, transmitida nas sucessivas diluições pela "memória da água".
Embora esses conceitos da homeopatia possam parecer estranhos, a eficácia é comprovada. "Quando pulverizamos esse produto na lavoura e nos formigueiros, as formigas recebem uma informação de que alguma coisa está errada e ficam reclusas", explica Câmara.
Ecologicamente correta, a homeopatia não extermina completamente as formigas. Como deixam de sair para cortar folhas, elas morrem por falta de alimento. Apenas um número de formigas suficiente para manter a rainha viva permanece em atividade. "Com isso, nós levamos as formigas a um nível de equilíbrio ecológico com o meio ambiente".
A técnica foi levada pelo professor da Unesp à Guiana, onde a infestação de formigas cortadeiras trazia sérios prejuízos à produção de mandioca. Poucos dias após a aplicação do medicamento, as formigas haviam cessado o corte de folhas.
Entusiasmada, Cleonildes levou para casa o nosódio preparado no curso. Ela própria fará as dinamizações em casa. "A gente gasta muito dinheiro com veneno e as formigas sempre voltam depois de alguns dias. Estou botando fé que a homeopatia vai dar certo. Quero fazer até pra barata".
Notícia veiculada em 26/04/2005 pela Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania do Governo do Estado de São Paulo.